segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Rapunzel - parte 2

No último episódio desta saga, escrito quando eu estava com a cabeça um bocadinho mais no sítio (se é que alguma vez a tive), tinha eu acabado de me aperceber que estava fechada na minha própria casa, um pouco como a Rapunzel, mas com o cabelo mais curto e tinha chegado à conclusão de que tinha que pedir ajuda a alguém que não ao vizinho do lado.

Estava perfeitamente equipada para um período de reclusão: toda transpirada da lida da casa, sem protector solar (era hora de almoço) e armada de limpa-vidros e jornal! Pena o jornal já estar todo ensopado, senão daria para ler as notícias.

Acenei por piedade aos frequentadores da esplanada, que um por um (que era para ser mais humilhante) se aperceberam que estava uma dama em sarilhos a acenar da varanda. Não sei exactamente porquê, mas lembrei-me da exposição que vi na Alfândega do Porto há montes de anos sobre tortura e pena capital. Um dos métodos de tortura era expor o condenado na rua e os vizinhos atirarem-lhe coisas e insultá-lo com o coitado indefeso. Mas como não foi nesse dia que eu cantei em altos berros no duche, safei-me de uma saraivada de tomates podres. Mas não perco pela demora!

O pessoal foi acordando, mas ninguém se queria convencer que tinha que fazer alguma coisa. Até que uma senhora se foi aproximando e perguntando o que se passava. Disse-lhe para chamar os bombeiros, mas para antes ligar ao meu pai, porque obviamente tinha que se rebentar a porta. Diz-me a senhora para escrever o número de telemóvel do meu pai... mas com quê? Eu não tinha planeado exactamente ficar fechada do lado de fora da minha própria casa! A intenção foi boa!

Agora se começa a ver a fibra de um povo! E vê-se como? Pela capacidade de improviso de dobrar as regras. Refira-se que por esta altura aquela secção da rua estava em peso à janela a mandar bitaites (mas esta gente não é capaz de ver uma pessoa ser humilhada em paz?).

"Os bombeiros não, que isso aconteceu ao meu primo Chico e ele teve que pagar uns cento e tal euros"

"Trepa-se à varanda e rebenta-se a porta!"

"Parte um vidro!"

"Não há mais ninguém com chave de casa?"

"E a janela da cozinha, está aberta? Ou outras janelas?"

A isto chama-se na gíria brainstorming e é a base de grandes decisões. Trabalho de grupo! O verdadeiro evento corporativo versão proletário (já lá vamos). Aliás, as totós das formadoras do "Magalhão" deviam ter prendido uns professores numa varanda alta e desafiado os outros professores a tirarem-nos de lá. O que ia ser giro, porque tenho a certeza que se descobriria um grupo a conspirar para deixar lá um colega a morrer de fome e frio, mas isso são outras conversas.

Lá em baixo a turba conspirava quando eu revelei que tinha uma nesga de uma janela aberta. Foi pura sorte e mesmo azelhice, porque pensei que a tinha fechado por causa da brilhante ideia de o vizinho do lado ter decidido grelhar um peixinho, arrastando a porra da fumaça para minha casa. Arejar a casa é uma coisa; defumá-la é outra inteiramente diferente.

Nesta altura eu tinha perdido o controlo à coisa (eu diria que o perdi quando me fechei do lado de fora da varanda, mas é uma opinião) e nunca mais se falou em chamar bombeiros, polícia ou mesmo o meu progenitor. Lá em baixo uma catraia de 7-8 anos guichava "ficou fechada do lado de fora! Ficou fechada do lado de fora!", o que me fez pensar nas maravilhas da maternidade. Nomeadamente no hábito chinês de dar certo e determinado destino às fêmeas da descendência. Aliás há-de ver que nestes dias andei muito maternal (tenho outro post no meu moleskine, que escrevi para não me conter de estrafegar a prole de outra criatura (apesar de ter a certeza que ela me agradeceria).

E por agora é tudo, porque me está a acabar a bateria e tenho que ir pregar para outra freguesia.

I'll be back... é uma ameaça!

3 comentários:

Anónimo disse...

dear......... ahahahahahahahahahaha huahuahuahauhauahuaha!!! ahahahahahahahahahahhuahauhauhauhauhauhauahuahuahuahuahuahuah... ai que que morro!!!!!!!!!!!!!!!

ZumZumMataMoscas disse...

Aboborinha,

Esta da varanda está bem esgalhada!!
Ainda por cima em formato novela aos fascículos ... muito bem. Aposto que vai conseguir prender os seus leitores.

Com um pouco de sorte estes fascículos ainda serão publicados em formato papel debaixo do nome "Uma abóbora na varanda".
E, mais tarde, serão adaptados para uma novela brasileira em 278 episódiso e para uma "soap opera" norte-americana em 7 temporadas.

Os meus parabéns, vou recomendar que mudem a expressão "fazer render o peixe" para "fazer render a varanda".

Abobrinha disse...

ZumZum

Bem, o ataque a Pearl Harbour durou 10 minutos e deu um filme de 2 horas (que eu não vi nem quero ver), por isso um drama de meia hora merece no mínimo isso! Infelizmente, ninguém paga à argumentista!