Gosto de contos de fadas, mas a Rapunzel nunca foi assim um favorito. Mas foi o primeiro que me ocorreu há um tempo quando estava a limpar os vidros da minha casa.
Limpar os vidros não tem nada que saber: é só saber lutar Karaté! E aqui se distingue um trintão de um cidadão mais novo, porque um trintão se recorda claramente do Ralph Macchio magricela, com as calças de cintura muito subida, ainda com a voz esganiçada de adolescente a cortar um bonsai ("what come from inside, always right"), ir a um baile de máscaras vestido de chuveiro, a apanhar porrada de criar bicho de maus vestidos de esqueletos e depois ser cravado para lavar os vidros do stand de usados do Mr. Miagui (só pode, porque não sei onde é que ele arranjou tanto carro) para aprender Karate. Também havia uma cena com uma mosca, mas nada de sexo, o que justifica como é que os trintões sairam todos meios abanados do capacete.
Havia ainda o Peter Cetera a cantar "I am a man/ Who will fight/ For your honour" todo de preto num cenário de quarto japonês lindíssimo enquanto mexia as mãos como se estivesse a cantar fado, fazia esgares como se estivesse a arrear o calhau e se mexia de forma suspeita! E agora que reparo bem, tinha os dentes quase tão brancos como os do Paulo Portas. E para tornar óbvio como sou velha, eu vi isto em VHS (podia ser pior: podia ter visto em Beta). E via este próximo vídeo no Europe Television, possivelmente no Countdown com o Adam Curry... estou velha, nitidamente!
Onde é que eu ia? Ah, nos vidros! Fácil: é só fazer como o Daniel: wax on, wax off (para fins dramáticos vamos fingir que encerar um carro é o mesmo que lavar os vidros)! Quanto ao movimento estamos conversados: wax on, wax off. O resto é mais complicado e exige mais ciência, como descobri às minhas próprias custas.
Os vidros têm dois lados: o de dentro e o de fora. Vamos definir o lado de dentro como aquele que consiste da interface vidro/aconchego do lar e o de fora como a interface mundo cruel exterior/vidro. Há que ter um certo rigor nestas coisas, senão ficam mal entendidos. Limpei todos os vidros de todas as janelas da casa (ambas as interfaces, como convém), sendo que a parte de dentro não tinha espinhas mas a parte de fora implicava risco da minha própria vida porque implicava encavalitar-me perigosamente no parapeito (o que me lembrou da história de uma ex-vizinha fufa, mas não vamos desconversar). E vocês a pensar que a vida de uma dona de casa era fácil e isenta de perigos!
Quando todos os outros vidros estavam imaculados, dirigi-me resolutamente à varanda. E foi aqui que o drama se desenrolou...
A parte de dentro dos vidros não teve assunto. A parte de fora seria à partida mais agradável porque o dia estava lindo e implicaria à partida menos risco que as janelas, já que não havia necessidade de perigosos números de equilibrismo... enganador!
Ora limpava eu os vidros do lado de fora, com determinação, empenho, um jornal e limpa-vidros quando ouço um seco e metálico "tric". Fiquei a olhar para a porta e pensei "se não fosse tão estúpido pensar uma coisa destas, diria que acabei de me trancar do lado de fora da varanda"... mas é claro que seria um pensamento parvo! Como seria absurdo que eu, de facto, estivesse trancada na varanda da minha própria casa... o que se veio a verificar verdade depois de vários safanões na porta... porque ela não abria!
Se eu fosse um pouco mais louca desataria a cantar e a dançar o Rapunzel da Daniela Mercury (se alguém encontrar o vídeo, avise-me), porque o conto de fadas traduzia a minha situação: fechada numa torre por uma bruxa má (no caso, eu). Pensando bem, teria sido até sensato, porque seria chamada uma brigada de intervenção psiquiátrica urgente, o que me resolveria o problema de estar fechada na minha própria varanda da minha própria casa (entrar de novo seria outro problema, que eu resolveria em devido tempo). Mas se eu fosse a Rapunzel, teria cortado as tranças e usado as mesmas para descer em vez de ficar à espera do atado do príncipe que nem uma merda de uma escada sabe arranjar. Mas o meu cabelo não estava assim tão comprido, pelo que não era uma opção.
E agora? Senti vontade de rir pelo ridículo da situação e ocorreu-me várias coisas: fingir que não se tinha passado nada a ver se o assunto se resolvia sozinho, ficar ali sem dizer nada a ninguém até que dessem pela minha falta e me viessem procurar, atirar-me abaixo da janela, partir um vidro para entrar ou chamar ajuda. Felizmente a sensatez e o realismo prevaleceram e optei pela última.
Tentei chamar o meu vizinho debruçando-me pela janela e chamando-o... quando me apercebi que não sabia o nome dele nem da mulher! E chamei "ó vizinho!!!!"... nada! Eu ouvia-o, mas ele não me ouvia. Está visto que Doors às 7 da manhã de domingo aos berros afectam a audição!
Por sorte um dos meus medidores de qualidade de vida é a proximidade de uma padaria. Eu tenho qualidade de vida nesse particular porque há uma em frente à minha... varanda (vou fingir que não é relevante que o pão seja uma merda, o que dá cabo do critério de qualidade de vida). E, consciente do ridículo, esbracejei e pedi ajuda.
(continua)
E agora, como é que a Abobrinha se vai safar desta?? Aceita-se apostas!
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11 comentários:
Hmmmmm, belo conto, ahahah!
Em primeiro lugar, deixa-me dizer-te que apreciei a menção ao Karaté Kid, que mais não seja porque por volta dos meus 20 quando praticava karaté foi filme de culto!
Em segundo lugar, porque isto de ter varandas tem muito q se lhe diga! Passei por uma situação, em que qual mulher aranha tive que salta da varanda do meu vizinho GNR para a minha...mas bom isso é outra história!
Voltando à tua, olha só vejo três soluções...ou tiveste a espalhafatoso dueto, policia-bombeiros para te arrombarem a porta e por dentro entrarem, ou tal como eu utilizaste a varanda do vizinho, ou em ultima alternativa terias uma qualquer outra janela lavadinha entreaberta e por um bambúrrio de sorte com ou sem bombeiros conseguirias entrar!
Fonix...de qualquer modo é uma saga do caraças!!! Oh Rapunzel quem te mandou cortar as tranças pá!
Djinn
Eu não tenho tomates para mulher-aranha: não tenho vertigens, mas andarei lá perto. A situação resolveu-se, mas foi bem mais estranha que isso.
AH AH AH AH AH :)
Rapunzel? Está aqui querida:
http://www.youtube.com/watch?v=jX2-qgZ0wqE
Estou colada à história, completamente viciada! Quando sai o resto?
Beijocas grandes!!!
Requiem
Não vou queres saber se te estás a rir comigo ou de mim. De qualquer modo, este blogue é de entretenimento e não se aprende um boi.
Salto-Alto
Ainda bem que estás a gostar. De bem que suspeito que a história do Karate Kid te tenha passado ao lado porque és novinha demais. Mas ficas a poder rir-te com razão dos vídeos dos trintões (há mais se procurares neste tasco).
O resto sai quando me der na real gana escrever (o que deverá ser aí segunda-feira). Estou a criar expectativa e a recuperar de ter escrito um post tão longo: já não estava habituada.
Obrigada pelo vídeo!
Carol
Isto foi à hora de almoço. O das 7 da matina foi há um tempo, quando escrevi o post a que fiz ligação.
Eu dizia-te o que fazia de interessante ao domingo às 7 da manhã, mas coravas.
Abobrinha: :P:P:P:P
Dear, sensacional!
Porque não dá umas "pistas"?!
Afinal de moras no primeiro andar , pedes a alguém lindo que nem o padeiro a abrir os braços e receber o doce fardo que é a sua pessoa!
Porém se habitas ao segundo andar, podes jogar a aparelhagem de limpeza no vidro do outro vizinho para ter a sua atenção, já que está surdo! (valem os sapatos e roupas!!!)
Mas, como és um nada exagerada, tens duas opções: saltas em vôo livre,e chamas a atenção "descascada"da SIC e arredores!!!
Djinn
Eu ia dizer fazer uma caminhada! POrque a essa hora ainda não está calor! Mas o que é que essa tua mente porca pensou que eu ia dizer? (depois conta-me!)
Raiodesol
Pistas? Na, isso não tem piada! Têm mesmo é que adivinhar. Ou tentar pelo menos!
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