segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Uma multa, uma carteira quer perdi mas não perdi, um trapezista abichanado e um homem sem cabeça

Bem, a isto chama-se não ter segredos e resumir um fim de semana menos a parte da pintura.

Pois no sábado tive mais uma boa ideia (e vocês já perceberam o que é que eu devia fazer quando tenho boas ideias): uma vez isolados os rodapés e lixadas pequenas imperfeições, dar uma voltinha em vez de iniciar de imediato a pintura da casa.

Resolvi ainda (outra boa ideia) ir de carro. Quem sabe o que é estacionar no Porto velho/antigo, imediatamente me diria que a ideia era péssima, mas eu tinha a desculpa que depois iria ao super-mercado comprar umas coisas para comer: a minha casa tem estado uns quantos de furos abaixo de habitável... há já um tempo, por causa da minha mania de adiar a porra da pintura, a ver se ela se faz sozinha, o que não estava nem perto de acontecer. E isso implica que não há nada de comestível em casa porque vou sair daquela para a nova!

Pois tive que fazer como o cão antes de se sentar: dar várias voltas! Encontrei ali um lugarinho mesmo catita e estacionei, toda contente! Fui à minha vidinha, pensando várias vezes: devias estar a pintar, estúpida! Mas o facto de serem mais ou menos 4 da tarde quando saí de casa e de os dias estarem a encurtar (o que poderia implicar uma pitura mais descuidada) serviu-me de consolo.

Voltei para o carro às 7 da tarde, com a consciência pesada, mas relaxadinha... até ver um papelinho do que parecia publicidade preso ao pára-brisas! Aí apercebi-me que a PSP não costuma fazer publicidade! Quando parei no semáforo abri a porta e estiquei-me toda para apanhar o papelinho e ler o desaforo: mal estacionada e ronhonhó do artigo não sei quê e 60 (!!) euros! Ouch! Só podiam estar enganados! Então eu olhei para todo o lado e podia estacionar!

Voltei ao local do crime e lá estava: aqui a cabeça de abóbora tinha estacionado num lugar destinado a deficientes. Estúpida! O pior é que a multa era das 18:00 h!! Ou seja, se eu tivesse vindo embora mais cedo, não se teria passado nada. Para vossa informação, em 14 anos de carta (sim, estou a ficar velha), é a minha primeira multa. Como qualquer primeira vez que se preze (leia-se: em que o parceiro não tem cuidado nem consideração), vai doer (ainda não paguei, mas vou pagar, claro!).

Aqui que ninguém nos ouve, qualquer deficiente que consiga estacionar ali e sair do carro é que merece uma multa: é daqueles sítios horrorosos com pavimento em paralelo e ruas estreitas. Deviam pagar-me por ter bloqueado aquele sítio... OK, fraco consolo... senti-me mal e espero não ter prejudicado ninguém.

As minhas aventuras continuaram quando decidi ir jantar. Quis a sorte que me desse na moina ir primeiro a uma loja... onde vi que não tinha a carteira na bolsa! Como tenho o carro transformado em carrinha de ciganos, pensei que era lógico que a dita cuja estivesse lá aninhada algures entre camisolas da Nike de contrafacção e carteiras Gucci roubadas (mentira: estava a apontar para o saco do IKEA, que não é tão chique mas que eu prefiro, por ser moda casual e vegetariana).

Não fiquei preocupada, pelo que fui ficando por ali mesmo a ver um espectáculo bizarro. Vários até! É que não é todos os dias que a Rua Miguel Lombarda tem uma banda de tipos vestidos como se fossem porteiros num hotel a fingir de chique à Benfica e com um penico na cabeça. Sobretudo um tipo com aspecto abichanado pendurado num trapézio... não creio que se passe coisas dessas todos os dias no Porto. Nem em lado nenhum. No Porto também não é normal ver tipos sem cabeça a passear de guarda-chuva. Mesmo porque não estava a chover!

Para o caso de estarem a tentar discretamente ligar para o Magalhães Lemos (dizem que tem uns jardins bestiais e que é muito agradável, sossegadinho e que dão drogas mais ou menos à fartazana), deixo fotos a documentar o que acabei de descrever. Nem eu me lembrava do semelhante! Afinal era uma cena qualquer de promoção da Famous Grouse, que se associou à abertura oficial das galerias de arte. É que entre Júlio Dinis, a Reitoria da UP, o Hospital Santo António e a rua da Torrinha há ali uma ilha de galerias de arte. Nunca lá fui a nenhuma, mas lembrei-me que o Herr Krippmeister lhes poderia dedicar uns quantos de posts hilariantes. Fica a ideia!

Era só gente chiquérrima e a falar chiquérrimo no meio da rua. E eu a dar mau aspecto no meio daquele glamour todo (mas isso é costume), a sentir-me um pouco solidária com o resto da classe dos pintores de construção civil (uma casta superior, como exposto anteriormente, mas pouco dada à cultura porque tem coisas mais importantes em que pensar).

Não fui a única a dar mau aspecto: estava a tirar fortografias à ave rara no trapézio quando uma ave (infelizmente não em extinção) se aproxima de mim e diz "havia de ter tirado fotografias era à bocado, quando ele estava de pernas para o ar! Porra, eu nem conseguia subir lá acima! Só olhar para aquilo dá-me vertigens!". E quando eu baixo a máquina digital, o espanto: "olha, vê-se o chão! Que grande máquina!"... é o que dá misturar a nobreza com a plebe. Eu incluo-me na plebe, atenção!

Mas nem só de cultura vive o homem mas também de jantar! E voltei à carrinha dos ciganos para ver se encontrava a carteira. E aí... nem ao pé dos Rolex falsos, nem das t-shirts Dolce & Gabbana, nem dos Expressos de 3 semanas que ia usar para forrar o chão da minha casa/acampamento.

Não entrei em pânico: estava com certeza em casa! É o que acontece quando se tem a casa estilo acampamento de ciganos onde explodiu uma bomba de fragmentação e depois foi montado um estaleiro de obras (não necessariamente nessa ordem)! Voltei fermosa e não segura para casa, onde me dediquei à inglória missão de vasculhar no meio das poucas coisas que lá tinha à procura da porra da carteira. Se fosse o telemóvel era mais fácil: punha um a chamar o outro e ele haveria de denunciar o paradeiro do colega. Mas a carteira... é mais complicado! Não tem sequer GPS! Ora aí está uma ideia!

Por esta altura é melhor que saibam que a descrição do estado da casa não é exagerado mas factual: imaginem os móveis todos chegados para o meio, para deixar as paredes expostas... confuso, não?

Agora estava quase em pânico: uma multa e uma carteira perdida é um bocado de azar a mais! Voltei ao carro, onde depois de uma busca frenética a carteira ficou a olhar para mim com cara de gozo. Mereci! Para a próxima faço as coisas no tempo certo em vez de andar a enconar! E arrumo a mala do carro (o que está visível está perfeitamente aceitável e normal: é só a mala que está um horror).

O resto do dia decorreu sem incidentes, mas isso também se poderá dever a eu ter ido para o centro comercial, comido qualquer coisa em andamento, comprado o que precisava para sobreviver, para me refugiar seguidamente em casa. Jurei a mim mesma que no domingo sem falta pintaria a casa, a ver se começava a viver uma vida de gente!
E isso é assunto para o meu próximo post: o epílogo da minha vida como pintora de construção civil! Que escreverei quando me apetecer (talvez ainda hoje, não sei!). Só depois virá o post da Cosmopolitan.

Pela vossa paciência em ler isto, fica um brinde: arte à moda do Porto. Arte na rua, pelo povo e para o povo (isto parece um bocado esquerdista, mas quero que se lixe!). O Porto não é só uma cidade cinzentona (mas também é!).

14 comentários:

Joana Cabral disse...

Abobrinha,

Mas que dia delicioso!! Tás pior que eu, que na sexta feira cheguei a dizer a senhora do cartório (fui lá a trabalho) "Espere aí que eu vou-me atirar da ponte e já volto"
Digamos que já tive dias melhores

Bom, fico feliz de saber que finalmente acabaste de pintar a casa. Até foste rapida, tendo em conta que a minha casa de banho está em obras há 3 anos e sem fim á vista ;)
(essa dores no corpo é que são chatas, tens de solicitar um handy man urgentemente para tratar disso com umas boas masagens :) )

Agora podes-te divertir com a parte gira que é decorar!!

Allanah disse...

Oh Abobrissima, nao me queres vir aqui ajudar a volta a minha casa não?? Ja precisava de uma pintura... :P

Abobrinha disse...

Allanah

Uma demão só! Não levo caro: 100 euros à hora para pintar, 150 por isolar rodapés e outros que tais e 50 para fazer uma geral... uma limpeza, sua maluca!

Mas o que vocês não sabem é o que se pode fazer com o cabo da vassoura! Nem eu vou dizer agora: fui ao IKEA... e vim... levei uma coisa aflitinha e trouxe duas à vontade! Sim, o carro é o mesmo! O lubrificante era o máximo! Mas eu conto isto noutra altura! Mas desta vez ao menos tenho as peças certas! Verifiquei duas vezes as etiquetas!

Acho que amanhã me vai doer tudo! E ainda tenho que fazer arrumações e colocar candeeiros e um espelho... fixe...

Abobrinha disse...

Allanah

Com a pintura podia-te ajudar, mas em troca tinhas que me deixar tomar conta da tua terroristazinha!

Abobrinha disse...

Joaninha

Quando te apetecer atirar da ponte abaixo, ri-te! É o melhor! Ou faz uma maldade! Eu hoje fiz uma sem querer (que ainda é mais giro!): ao arrastar o colchão do sofá-cama pela parte comum do prédio deitei o vaso do vizinho abaixo (com uma planta horrorosa, diga-se).

Diga-se que ele não tinha nada que ter lá a porra do vaso em primeiro lugar: são partes comuns e o apartamento dele fica em zona de passagem, ao contrário do meu, que fica recolhido!

Azar do carago, não tinha com que limpar (aí não tive culpa: estou ainda em trânsito). Só espero que não seja o início de uma grande "amizade", mas não creio que possa ser pior que a minha casa anterior! Se bem que mesmo aí fiz grandes amigos. Amigos para a vida inteira e gente que aprecia o que eu fiz pelo condomínio. E acéfalos!

Abobrinha disse...

Joaninha

Já agora, eu mesma fiquei supreendida com o tempo que demorei a pintar. No total foram 3 ou 4 horas (não me lembro bem). Ou seja, uma rapidinha! E isto com tempo para colocar jornais no chão e tudo!

Já agora, quem insinuar que o Expresso não é um grande jornal não merece continuar a respirar: nem precisei de 2 semanas! Essa é que é essa!

E depois há sempre o poder do cabo da vassoura!

Joaninha disse...

Abobrinha

Essa do poder do cabo da vassoura vais ter de me explicar, sua dodia!!!!
Não tem de ser hoje, mas vais explicar!!!
Sabes estes dias foram muito maus, sexta e segunda, mas hoje já está tudo mais ou menos normal, graças a Deus!!

Óh Allanah,
Mas o que é isso de engatar pintoras de construção civil na internet!!
Ai a menina!!!

Joaninha disse...

Abobrissima,
Esqueci-me. temos post de sapatos no joaninha, Vai lá espreitar foram o meu presente a mim mesma depois do dia terrivel de sexta feira!!

Joaninha disse...

Olha a Abobrinha mudou o look ao blog!
Tá giro!

Abobrinha disse...

Joaninha

Gostas? Já estava cansada de tanto laranja! A vida é a cores, mas não exageremos! E isto dá com o minimalista da minha casa nova! E com as paredes virginais da outra!

Os sapatos novos ficam-te bem mas não são o meu estilo. Nem que eu quisesse: os meus têm que ser mais para o redondo à frente porque tenho o peito do pé muito alto.

O meu dia ficou ainda mais estranho hoje, mas é numa nota inteiramente diferente. Mas isto resolve-se! Espero que a bem!

Anónimo disse...

oi abobrinha, a casa está muito bem.. amei as fotos, sei que não nos adoramos efetivamente , mas a fotos estão ótimas, continues assim, agradável, para eu sempre lembrar da sua figurinha. comprei uma bolsa lindérrima, alguém fez eu me apaixonar por ela.... saudades suas , mas quando estás bem, azeda nem te ver quero. bye

Joaninha disse...

Abobrinha,
Se quizeres ajuda para desancar alguem apita, o Herr Krippmeister tem os meus contactos ;)

Krippmeister disse...

Eu achava que o porto era uma cidade cinzenta onde estava sempre a chover. Afinal é uma cidade cinzenta com grafittis e tipos sem cabeça onde chove de vez em quando. Cool.

Que dia! Mas é o que dá quando se tenta misturar arte com bricolage e estacionamento proíbido e compras no mercado negro e aniversários do Famous Grouse

Abobrinha disse...

Herr Krippmeister

Estás a ver que o Porto é mesmo uma "naçom"!

Acho que ultimamente não devo mas é fazer muitas coisas ao mesmo tempo! Não sei se me estou a transformar numa loura (estou é a ficar com o cabelo branco) ou num homem, que não consegue pensar em várias coisas ao mesmo tempo! Ou então sou mesmo cabeça no ar!