terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Diz-me do que falas

Hoje passei o dia a organizar umas coisas cá em casa. Vai daí, como estava com tempo e paciência e na onda de sistematizar, comecei a fazer uma pequena sistematização mental das coisas de que falo e com quem. E quais as motivações de cada uma das conversas e grupos.

Do que falo no trabalho? Ora bem, de trabalho! Ocasionalmente de qualquer coisa que li nas notícias, regra geral relevante para o que faço ou para me fazer de inteligente e culta. Ou seja, para enganar o povo! Com as poucas gajas com quem lido, normalmente a conversa vai parar aos filhos. Com diversos graus de interesse, nomeadamente nenhum na maioria das vezes mas não sempre. Eventualmente a roupa, sapatos, saldos, receitas e aparelhos de cozinha (espremedores de citrinos excluídos).

Do que falo com família? Do resto da família, de coisas que aconteceram quando era pequenina, de quem casou e de quem falta casar, de quem tem um par de cornos e acha normal, se um primo ou outro tem ou não namorada, de quem vai ter filhos ou já os teve. Curiosamente, quase nunca me perguntam se eu tenho namorado e vivo bem com isso. Não sei porquê, mas não quero mesmo saber.

Do que falo com amigos? Bem, no geral de muita coisa: coisas que aconteceram no liceu, na Faculdade ou no emprego, de outros amigos e como se estão a dar bem ou mal na vida. Da vida dos outros: dos namorados, casamentos (poucos) ou divórcios. De cinema, de passatempos que temos ou não em comum. De filmes, livros, carros, prestações de carros, casas, prestações de casas e telemóveis. De saídas à noite.

Do que falo especificamente com amigos mulher-sexuais? Do que faço, do que eles fazem. Procuramos pontos comuns, algo que nos identifique com os outros, que nos faça fazer parte da esfera pessoal (eventualmente íntima) dos outros. De tudo para parecer interessante. De tudo para não nos sentirmos sós no mundo. Com um deles falo ainda de como tenho um blogue e de como é interessante. E de como não lhe digo qual é, só para o torturar e gozar com ele. Mas não faz mal, porque ele já sabe que eu não bato bem da moleirinha (não faz ideia é de quanto).

E com amigos homem-sexuais? Bem, essencialmente de gajos! Normalmente de como são quase todos uns totós e como um par deles são bons como o milho e um por outro uma pessoa decente, que nos faz restaurar a fé nos outros todos. Eventualmente discordamos se um ou outro é bonito e aí a conversa fica animada. Um deles ainda fala comigo de técnicas para um bom broche, mas nessas alturas eu sou só ouvinte (atenta!!). Mas fico de todas as cores, porque eu não sou sempre a Abobrinha! E mesmo a Abobrinha tem limites e esse é um deles!

Com amigas (não tenho amigas mulher-sexuais) falo de... gajos. De como a maioria são cabrões, de como as mulheres têm que ser mais amigas umas das outras, mas como muitas agem como se o único objectivo na sua vida fosse arranjar uma coisa com uma pila. De como outras são verdadeiramente amigas. De dietas, de exercício, de nos sentirmos bem no nosso próprio corpo e espírito. De não estarmos tão sós como às vezes nos sentimos De irmos a uma sex-shop juntas um dia destes. Das vantagens de ter um gatinho.

E de como por vezes me vou abaixo sem motivo aparente. Como hoje, por exemplo.

De que falo comigo mesma? De tudo e de mais alguma coisa. De como tenho que falar menos de gajos, porque me faz mal e a minha vida não se resume a eles nem de perto nem de longe. De como me posso melhorar, de modo a olhar para o espelho e ver uma pessoa íntegra e bonita por dentro e por fora, independentemente de quem me aprecie ou não. De como não estou na realidade sozinha embora às vezes o sinta de maneira avassaladora. De como sou efectivamente uma excelente pessoa. E sei isso. Embora por vezes não me adiante de nada!

6 comentários:

Eu Mesma! disse...

por vezes sim Abobrinha...
sabemos isso tudo mas mesmo assim... ainda custa... mesmo assim ainda é dificil não nos sentirmos sós....

e por vezes, mesmo acompanhados nos sentimos só.... o que para mim é um sentimento ainda mais complicado de gerir.....

mas a mim...
essas tristezas voláteis acontececem sempre que estou uns dias sem trabalhar... parece que a nossa vida se resume em grande parte ao trabalho e ao nosso dia-a-dia...

e apesar de ser mau essa rotina... o que é um facto é que realmente sentimos falta dela....

Jinhos grandes

Abobrinha disse...

Eu Mesma

Digo com frequência (e acho que já aqui o escrevi) que toda a nossa vida se resume a arranjarmos maneiras de iludir a solidão. Com trabalho, com amigos, com passatempos, tudo se destina a não nos sentirmos sós. É uma luta desde que nascemos até que morrremos, às vezes mais importante do que ter comida e abrigo.

E sim, mesmo numa multidão podemos estar sós, se não nos identificamos com nada ou se estamos por dentro tão vazios que nos vemos à transparência.

A rotina é boa: sentimo-nos úteis, parte de algo importante. Daí que estar desempregado seja duplamente cruel: não se tem dinheiro nem função social. É profundamente triste.

Sentir-me bem comigo, sentir-me íntegra é importante. Mais: é essencial. Mas sentir que os outros me reconhecem isso é também muito importante. Particularmente porque há um tempo fiquei só por opção. Mas isso já são outras contas de outro rosário.

Mas isto são pequenos momentos que são benéficas: temos que nos questionar de vez em quando. Olhar para nós, analisar o que queremos e o que não queremos.

Anónimo disse...

Olha eu estou numa fase assim como descreves no comentário e é estranho uma pessoa sente se só sem rumo e de facto concordo contigo fazemos de tudo para enganar a solidão principalmente quando estamos sozinhos sem namorada trabalho pensa-se mais nisso, o que por um lado é bom para organizar ideias e sentimentos por outro é penoso porque começa-se a sentir que não se encontra uma pessoa que nos compreenda e que goste de nós assim exactamente como somos, sem o brilho que uma embalagem bonita que por vezes é apenas isso…

Beijo

Abobrinha disse...

Caranguejo

Um lugar comum é que temos que estar bem connosco mesmos. E é verdade! E isso implica estes pequenos momentos de melancolia para fazer uma reflexão.

Não podemos viver a nossa vida em função de um namorado ou de uma namorada, porque as coisas eventualmente acabam e/ou tornam-se sufocantes. E podemos não fazer parte do conto de fadas, pelo que a espera não faz sentido.

Mas o que não podemos fazer é isolarmo-nos em casa, chorar que ninguém nos liga. Temos que procurar os outros, fazer com que os outros nos queiram procurar.

E, como disse recentemente a uma pessoa, a vantagem de andar sempre à procura de pessoas novas é que de vez em quando se encontram pessoas excepcionais no processo.

VCosta disse...

Cada vez falo mais comigo mesmo
O silêncio vale ouro e é nessa base que mantenho as conversas (falo comigo mesmo)...
Conversas geralmente são os outros que puxam e aí sim, debato as coisas à minha maneira (quando tenho opinião) se bem que cada vez dou menos valor ao que os outros pensam/falam...

Abobrinha disse...

VCosta

Não vivemos sozinhos. Aprendemos com os outros. E eu gosto de procurar pessoas e encontrar pessoas interessantes. É por isso que gosto tanto deste blogue e é por isso que não desisti dele há mais tempo. E também falo comigo ao escrevê-lo.