Sussurravas-me ao ouvido. Eu afastava-te, absorta nos meus pensamentos. A cabeça ainda no trabalho e nas preocupações mesquinhas do dia-a-dia, sem tempo para ti. Outros dias haveria que te perseguiria pelo quarto fora, horas e horas até cair na cama ofegante, mas ontem à noite não me apetecia. Também tenho os meus dias, tens que compreender!
Tentaste aproximar-te de novo, de novo sussurrante. Eu cobri a cabeça para não te deixar beijar-me. Mas foste persistente, conseguiste insinuar-te sorrateiramente por entre os lencóis e deste-me uma mordidela no pescoço. Chupaste-me o sangue porque isso é que te dá vida, seu tratante. E depois tenho eu que andar com uma marca, que todos sabem do que é, para que toda a gente saiba o que me andaste a fazer! Começo a achar que nesta nossa relação dou mais do que recebo, mas já sabes que um dia isto ainda vai acabar mal. Não digas que não te avisei!
Pensei que depois de teres o que querias me deixasses em paz. Eu, que sou uma amante exigente, não queria nada contigo e com a tua fixação pela minha pele quente, sonolenta e levemente transpirada pela noite de início de Verão. Eu só queria dormir, descansar, retemperar forças. Mesmo porque isto já dura há uns dias.
Mas tu és teimoso e insaciável. Várias vezes durante a noite me acordaste com as tuas palavrinhas meigas e o teu toque leve. Sabes que me chegaste a magoar? Tens a noção disso? Ah, pois não! A ti só te interessa o teu prazer. Eu que me coce! São todos iguais!
Mordeste-me o rosto, o pescoço, os braços. E isso porque me protegi de ti, senão sabe-se lá o que me terias feito. Dormes de dia, vives de noite, não trabalhas e ainda me chateias. E sabes perfeitamente que a tua paixão não é correspondida.
No outro dia acordei com dores pelo corpo e a cabeça pesada por me teres dado a noite toda. Eu já não estou para estas andanças! E de repente vi-te: estendido ao meu lado na cama, quase morto. Cheio de sangue! Do meu sangue! A tua fome tinha sido a tua perdição: procuraste um cantinho meu mais saboroso e eu rebolei-me para cima de ti esmagando-te. Não entendo: sempre soubeste que eu era um pedaço mais pesada que tu, com que imprudência te meteste à morte?
Ainda mexias um bocadinho. Com um sorriso assassino, estendi o dedo indicador e coloquei-o sobre o teu corpo com força. Não voltas a tocar-me, seu insecto repugnante. Adeus mosquito! Vai para a mosquita que te pariu! Não me voltas a ferrar!
sábado, 21 de junho de 2008
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11 comentários:
Finalmente um show de escrita.
Este é o tipo de chachadas de amor que me agradam. São as únicas que me convencem.:)
bjs
Karin
Estas também são as únicas que eu escrevo. Gosto de pensar nesta cena como a minha cena Sharon Stone. Mas com cuecas.
Raiodesol
Que diabo, eu dou shows de escrita a toda a hora! E isto foi mesmo sobre um mosquito, mulher!
Nunc Dimitis!!!
Até que enfim, abobríssima, que contas a nossa história. Com reservas, reconheço, e quem sou eu para as desprezar? O importante é que está lá tudo, a nossa paixão proibida, as nossas privadas transgressões...
É claro que estou apenas a brincar contigo. Sejamos francos, eu não te conheço tão bem que me possa permitir bacoradas destas, excepto a brincar.
Um Abraço,
Abobrinha,
por acaso também tenho a panca de dormir com quecas, o que nem sequer deve ser muito saudável. Mas nem as quecas evitaram que um mosquito me ferrasse na parte redonda das costas!
bjs
Nuno
Eu espero que "Nunc Dimitis!!!" não seja asneira. E se for, ao menos que seja de qualidade.
Neste blogue é permitido brincar. Sobretudo porque fico com fama de ninfomaníaca homicida, o que é sempre bom e fica bem em qualquer lado. Quando se ultrapassa as marcas da brincadeira eu normalmente aviso, mas ri-me por isso não pode ser muito mau.
Karin
Dormir com quecas... dormir com quecas... estou com dificuldade com o conceito... ora bem, dormir durante uma acontece, mas não deveria ser a norma. E os mosquitos não devem pousar. Nem as pulgas, como se pode ler no hilariante início do romance "O memorial de convento". Mas eu assumo que a tua cama não tenha pulgas... e que não te tenhas apercebido que escreveste mal "cuecas"...
Vês?! É disso mesmo que o sr. Presidente da República precisa quando tiver que assistir aos filmes do Manuel de Oliveira: de um mosquito que substitua a primeira-dama no escurinho do cinema. A bem da Nação.
Mas já agora, oh! tripeira traidora e de maus-fígados!, o Oliveira de vez em quando também acerta, caramba! Já vi alguns filmes dele mesmo muito bons,a par de outros insuportavelmente pretensiosos e chatos. O homem é como o resto dos mortais, tem vaidades e tem dias... Aliás, sendo buéda filosófico, diria que os dias dele já serão poucos até à sua passagem à condição de restos mortais. Por isso, deixa-o lá pregar uma seca à seca do sr. Presidente. Sempre nos vinga (pelo menos a mim).
Ok, Ok
"ODE AO MOSQUITO"
cuidado com a Mal-ária
ahahah! ficou boa esta .....:)
Parte mais erótica de sempre: estendi o dedo indicador e coloquei-o sobre o teu corpo com força!Isto dá asas a tantas interpretações...
(L)
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