quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Silêncios (dos) inocentes

Abobrinha é espalha-brasas. É outra versão do mesmo vegetal.

O meu post anterior teve o seguinte comentário:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Depois voltarei para te comentar.Hoje só quero convidar-te a juntares-te a nós no NOTAS SOLTAS IDEIAS TONTAS (http://notassoltasideiastontas.blogspot.com) no grito contra a pobreza, hoje dia 17/10/07 em que, internacionalmente, se exige a sua erradicação.

17 de Outubro de 2007 17:46


Isto já me cheirou a promoção de blogue, que me aborrece muito ligeiramente (mas não morre ninguém por causa disso). A utilizadora é autora em dois blogues: silêncio culpado e notas soltas, ideias tontas. Também nada contra!

Abri depois o blogue do Joaquim Simões... e lá estava a mesma mensagem a promover o blogue! Deixei o seguinte comentário:

Joaquim

Lamento informar, mas a Silêncio culpado deixou a mesmíssima mensagem no meu blogue! Ponto por ponto, vírgula por vírgula.

Suponho que para depois poder afirmar

"A blogosfera está de parabéns e o blogue NOTAS SOLTAS, IDEIAS TONTAS, que acolheu com tanto empenho esta iniciativa, está de parabéns. E está de parabéns não pela qualidade que pretendem atribuir ao post de minha autoria, mas porque são uma equipa que sabe acolher e interessar-se pelo exercício de cidadania. Antes de eu postar já o NOTAS tinha ao lado a sua aderência a esta causa."

Eu até me levantaria contra a pobreza... e o racismo, discriminações de vários tipos, direitos dos animais, moda de leggings vermelhos debaixo de calções pretos curtos com cintos enormes (juro que não estou a inventar: já vi disto!)... mas não é assim que se "está de parabéns".
Estas iniciativas (e modo de divulgação) não serão mais auto-promoção que outra coisa? POdem ou não ter boas intenções (não foi essa a dúvida), mas alguém terá algum tipo de ilusões quanto a isto fazer seja o que for?

Suponho que fui um pouco cínica demais na história da auto-promoção (se sim, peço desculpa)... ou não? É isso que quero pôr à consideração do povo.

Mas há uma coisa que me mete impressão: estas iniciativas farão algo mais que deixar consciências tranquilas ("eu levantei-me!")? Haverá algum impacto? Se não, qual é o interesse? Porque não focar a atenção em coisas que realmente façam diferença?

Num registo inteiramente diferente, tenho no forno (em lume lento) um post acerca da perda da virgindade do José Rodrigues dos Santos. Superficial, como todos nós gostamos de vez em quando. Não vai resolver a fome nem a pobreza no mundo, mas fez-me rir e quero partilhar convosco.

10 comentários:

antonio ganhão disse...

Miúda, tu precisas urgentemente de um animal doméstico, tipo gato (não cão), para aprenderes a descontrair-te e a não tentares salvar o mundo das suas incongruências e negações.

Digo gato, pois como tu própria o reconheces são senhores do seu destino e contudo fazem-nos companhia.

Não foste cínica, mas mazinha, que por vezes magoa mais.

De qualquer forma, gostamos de ti, ou seja desta tua presença virtual, não te peço que mudes, mas que nos vejas mais como um gato, em que por vezes não faz mal dispensar uma carícia…

A pobreza é um tema grave tanto mais quando se acredita que à sua custa Portugal poderá alcançar a convergência europeia; e então aí torna-se obsceno.

Eu gosto dos livros do JRS de quem sou leitor compulsivo, tenho as minhas dúvidas em relação à personagem como pessoa. (Lá está! Mais uma das minhas contradições e logo dentro da mesma frase!)

Abobrinha disse...

Antonio

Em relação ao gato, adoraria, mas não sou boa companhia (leia-se companhia suficiente) para um bichinho neste momento. Um gato sozinho, por muito independênte que seja, não é um gato feliz. E eu quero tanto fazer um gato infeliz como uma pessoa. Ou seja, não quero! Não posso, não tenho esse direito.

Não te preocupes, que a falta do gatinho está a ser colmatada de outras maneiras. Mas obrigada pela preocupação. Fiquei sensibilizada, acredita.

Não me entendeste bem. POsso ter sido mázinha ao atribuir más intenções: eu mesma o assumi, mas tenho as minhas razões (não disse A razão, repara!). Se ofendi, peço desculpa, porque não gosto de ser injusta nem agressiva. Gostava era de mais que intenções! Não sei é como se faz!

A minha questão é: até que ponto estas manifestações adiantam seja o que for? Não queria magoar ninguém, mas pelos vistos também sou mal interpretada, o que também dói. Ultimamente quem se lixa sou eu, que sou posta na caixinha de má (acho que está estabelecido que detesto caixinhas), mas pergunto-me se será justo e se não estarei a ser lida na diagonal. Eu também sou um gatinho, sabes?

Se fores ver ao teu blogue, ao post do bezerro de ouro, mais que 3% de défice, o meu problema é se o número será mesmo esse! E se isso significa o que quer que seja e se nos leva seja onde for. Porque já tivemos 3 e tal porcento de défice (ou não?).

A questão da pobreza preocupa-me, mais do que possas imaginar, porque lhe vejo as duas faces. Em politiquês, eu vivo no "país real" (não sei é o que isso significa ao certo)! Hei-de lhe dedicar mais que um post, sobre várias pobrezas. Também sei que não se resolve as coisas com subsídios para isto e para aquilo, sobretudo quando atribuídos às pessoas erradas e se destinam a eternizar problemas e pseudo-soluções.

A minha outra questão é como se relaciona o défice (para um lado ou para o outro!) com a pobreza. E como se relaciona levantar o rabo da cadeira com seja o que for. Dito isto, estou eu aqui a fazer o quê? A mandar bitaites!

antonio ganhão disse...

Quando se sente a ponta do alfinete, lemos sempre na diagonal.

Quero dizer que existe muitas formas de levar a água ao nosso moinho.

Mas numa coisa tens razão, a maior parte das iniciativas são inócuas; mas quando o Gandi, usando a sua condição de advogado, comprou um bilhete de primeira classe num comboio na África de Sul o mundo mudou.

Nunca poderemos ter a certeza de nada, ou talvez possamos ter a maior de todas as certezas: é que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

A sabedoria só está ao alcance dos poetas, por isso passamos a vida a tropeçar em caixas. Não faz mal que nos queiram meter numa, podemos sempre dizer, quase deu, mas não havia espaço para a minha alma.

Claro que não tomei o que tu disseste por desinteresse pela pobreza (não teria sequer comentado e não voltava mais). A pobreza torna-se obscena quando a vemos formar parte da ideologia de estado e isso afecta-nos a todos. A uns já, no imediato, a outros mais tarde, quando verificarem que o seu país se transformou numa sarjeta. Por isso eu vou apoiando as iniciativas que me vão surgindo, sem contudo perder o espírito crítico. Imagina que no meio disso tudo alguém resolve atirar um Gandi pela janela fora…

Abobrinha disse...

Antonio

Que tu, que não me conheces de lado nenhum nem conheces o meu aspecto nem a minha voz sequer, tenhas interpretado na diagonal o que eu disse não é grave: o que é grave é que quem me conhece o tenha feito e sacrificado uma amizade por causa disso. É porque obviamente ela não valia a pena ou porque o conforto do que pensou valia mais que o que eu lhe dava, com as minhas imperfeições mas também o meu apoio (que subitamente nunca existiu!). Mas isso é outra história.

Depois reparei que também comentaste no tal blogue. Diga-se que eu não comentei porque não tive tempo e não me apeteceu na altura. Não tinha vindo mal nenhum ao mundo se o fizesse, mas bem nenhum tão-pouco! O bem que faria teria sido aquecer o ego dos autores do blogue.

Dito isto, não sei se reparaste que também estou a ser imensamente útil à sociedade ao escrever estes comentários! Eu também me sei ver ao espelho às vezes!

Quanto ao Gandi... o problema é que várias pessoas são atiradas do comboio fora (em andamento inclusive) todos os dias. Pessoas repetidas. E ninguém vê. Porque não conseguem ver ou porque lhes aterra à frente um que se atirou ele mesmo de lá para fora e reclama ter sido empurrado. Fala alto, barafusta e compram-lhe o bilhete de 1ª classe e um cruzeiro pelo Mediterrâneo para compensar. E ninguém repara no outro.

Isso não é culpa do cidadão que só olha para o combóio, mas de quem é suposto estar de guarda ao dito cujo. Seja como for, quem paga o combóio é que se lixa! Os funcionários recebem o mesmo ao fim do mês, nem que a empresa que gere o combóio tenha falido há muito.

No fundo o que quero dizer é que temos que estar atentos, ver as coisas pelo que são e pedir contas a quem toma conta de nós. Mas tudo isso se torna difícil sendo nós tão impotentes em relação à nossa própria vida e realidade, fará à realidade que nos rodeia (conhecendo-a ou não).

Mas tens razão: tem que se fazer alguma coisa. A questão é o quê.

antonio ganhão disse...

Sim, mas a India ganhou a sua independência, à custa do misero advogado que não gostou de ser atirado janela fora...

Joaninha disse...

"Sim, mas a India ganhou a sua independência, à custa do misero advogado que não gostou de ser atirado janela fora..."

Isto é verdade, mas não há muitos "miseros advogados" como esse.

antonio ganhão disse...

Talvez, por isso quando cruzo com um lanço-o janela fora, nunca se sabe os grandes feitos que ele poderá fazer!

ablogando disse...

A questão, António, não me parece que seja a da Índia ter conseguido a independência, mas se o esforço de Gandhi visava o que nela aconteceu depois do seu assassinato e o que é a actual Índia. Numa palavra: se hoje Gandhi se teria esforçado de novo no mesmo sentido.
Outra coisa, para mim ainda mais interessante, porém, é se Mahatma (não disse Gandhi) não se teria esforçado, de qualquer modo, para e em que direcção fosse que considerasse importante.

ablogando disse...

Um post acerca da virgindade do José Rodrigues dos Santos??!! Abobrinha, isso é um post precioso! só a ideia já me conseguiu deixar bem disposto. E olha que hoje era difícil consegui-lo...!
Terá alguma coisa a ver com aquela de (disseram) no romance dele haver uma passagem em que alguém dizia que queria comer o queijo feito com o leite da sua amada?! Terá algo a ver com tão corajoso e arrojado experimentalismo?!
Vá, fico à espera.

Abobrinha disse...

Joaquim

COmo prometido, um post sobre a virgindade do José Rodrigues dos Santos e a necessidade de lhe oferecer uma esfregona: agarrado ao cabo da vassoura pode ser que ele deixe de escrever livros.

Quanto ao queijo de leite da amada... eu vou fingir que não li essa parte, OK? Não falamos mais nisso! COmbinado?