domingo, 30 de março de 2008

Das víboras, dos professores e do rei no seu quintal

Este é mais um post que adiei escrever. Em parte porque a badalhoquice é ainda maior que a do costume, em parte por ser mais seguro meter a mão numa sala cheia de víboras que numa sala cheia de professores. Ao menos com a víboras eu sei ao que vou e mexem-se de maneira previsível. E são todas perigosas, enquanto que com os professores as coisas não são tão certas.

Considerei seriamente ilustrar este post com o vídeo do Carolina Michaelis. Não pela banalização das imagens, como mencionou no outro dia o Pacheco Pereira na “Quadratura do Círculo” mas por uma coisa ainda pior: as imagens não me chocaram nem sequer da primeira vez, pelo que repetir não faz sentido. Não me despertaram sentimento nenhum, o que me deixou preocupada.

Enquanto aluna do Secundário sempre achei que havia algo de profundamente errado com muitos professores: uma boa parte deles não percebia um boi do que estava a falar. Mas o respeitinho que tinha pelos professores, que os meus pais me incutiram e tinham também fizeram-me nunca levantar para dizer nada. Quando entrei para a Faculdade confirmei que muitos professores queriam era boa vida e vida de funcionário público, com baixas psiquiátricas de 2 em 2 meses, faltas automaticamente justificadsa, ADSE e 4 meses de férias. O que não tinha mal, desde que ensinassem, o que não era coisa que muitos tivessem capacidade.

Na Faculdade convivi com pessoas que foram para o ensino. Coitaditos! Quando se chegava ao estágio pedagógico era um terror! Lembro-me particularmente de um miúdo, todo estiloso, todo cool... algures no segundo período o miúdo tremia que nem varas verdes e gaguejava! GAGUEJAVA!!! Não é normal! Quase invariavamente os meus coleguinhas perdiam peso (das ralações, não do trabalho que envolvia preparar aulas, porque trabalhar eles sabiam), andavam com olheiras e rezavam que aquela tortura acabasse! Não pelos orientadores da Faculdade, mas pelos da escolinha, que não tinham metade da competência científica deles, mas tinham um prazer sádico em torturar os “colegas”.

Os alunos jogavam esta charada porque estas eram as regras do jogo: torturar estagiários era desporto nacional. Alguns chegavam-se depois ao pé dos estagiários e diziam que gostavam mais das aulas deles do que das da “stora”, mas sabe como é... e eles sabiam como era. Engoliam sapos. E a dieta à base de sapos continuava nos mini-concursos, nos quadros de zona pedagógica até efectivarem. E mesmo assim, às vezes a coisa corria mal porque não eram “filhos de algo”. Mas as regras do jogo são estas. Sempre foram! Por estas e por outras nunca foi esse o meu jogo, e até me dava algum gozo ensinar.

Pior que isso, uma vez obtida uma certa estabilidade, e como ainda havia lugar para professores não profissionalizados na minha área (já não é o caso), já falavam de cima da burra para “os outros”, os que tinham habilitação suficiente (ou própria? Não me lembro), porque não sei quê e não tinham pedagogia e mais não sei quê. Esqueciam-se que, na minha área, os que iam dar aulas eram regra geral os que não eram suficientemente espertos para outras coisas. Se mais não fosse, a diferença nas notas seria o suficiente para o demonstrar. Mas há sempre alguém abaixo na cadeia alimentar, por isso dá-se umas bicadas a esses.

E fala-se em avaliação de professores. Pensei eu: isto deve ser bom! E segui o link que deu o Ludwig para o Ministério da Educação. E perdi logo a fé:

“A avaliação incide sobre duas dimensões do trabalho docente: (1) a avaliação centrada na qualidade científico-pedagógica do docente, realizada pelo coordenador do departamento curricular com base nas competências); (2) e um momento de avaliação, realizado pela direcção executiva, que avalia o cumprimento do serviço lectivo e não lectivo (assiduidade), a participação do docente na vida da escola (por exemplo, o exercício de cargos/funções pedagógicas), o progresso dos resultados escolares dos alunos e o contributo para a redução do abandono escolar, a formação contínua, a relação com a comunidade (em particular com os pais e os encarregados de educação), entre outros.

A avaliação faz-se no interior de cada escola. “

A palavra que me ocorre e a mais adequada à ocasião: f***-se! Então a avaliação vem de dentro, por gaitas burocráticas e quando nem se entende metade do que este parágrafo diz, por ser tão subjectivo? Nem li o resto! Para quê?

“P: Quem avalia os professores?
R: Os professores são avaliados nas suas escolas pela direcção executiva e pelos professores coordenadores de departamento curricular. “

Resumindo, toda a gente gosta de ser rei do seu quintal. E há um pequeno-grande ditador no coração da esmagadora maioria dos professores. Eu sei isto experimentalmente! Por isso não senti nada pela professora que foi humilhada pela aluna no Carolina Michaelis, não sabendo nada da senhora. E isto preocupa-me porque eu objectivamente não acho que ninguém mereça aquilo. Como ninguém merece ser humilhado ao ponto de começar a gaguejar junto de uma amiga quando o ano nem a meio vai. Nem de ver o seu peso reduzido a metade nem o rosto a uma única grande e preta olheira porque está em estágio pedagógico. Mas o que eu achei do que aconteceu no Carolina Michaelis é que é... normal! Como é normal toda a paz podre nas escolas e que já dura há tempo a mais.

É ainda normal que nada aconteça a quem agrida deste modo professores novatos e professores mais maduros. Como é normal que Presidentes da Câmara de de clubes de futebol metam a mão na massa. É tudo normal!

O que não acho normal é que os professores achem tudo isto... normal e tenham deixado a coisa chegar a este ponto. À degradação de uma profissão digna. Ao ter que ensinar porcarias cientificamente vazias. A terem programas que vêm do Ministério cuja formulação não se entende por ser vazia de sentido e conteúdo e de mero português correcto! A terem livros de texto mediocres e cheios de erros (mas com muitos bonecos, cores e um papel brilhante). Há coisas que exigem um esforço enorme para ensinar. Não por serem difíceis, mas porque foram tão despidas do seu significado para não sobrecarregar os aluninhos, tadinhos, que se torna difícil explicar!

Não acho normal que os professores só tenham invadido Lisboa quando lhes foram ao bolso! Porque foi isto que aconteceu! Porque finalmente alguém disse “não é normal que todos os professores subam automaticamente na carreira”. Porque não é!

Mas esta avaliação é boa? Não! Mas eu aceito-a, por ser absolutamente consistente com todo o resto do processo educativo: uma fraude! Porque se ninguém reclamou antes, então merece este sistema de avaliação e ele é bom.

As escolas secundárias hoje são pequenos burgos com os seus fidalgos. Fidalgos no sentido muitas vezes literal de “filho de algo”. Este processo de avaliação só vai legitimar ainda mais o que já existe, com a diferença que vai ao bolso de alguns. Coerentemente, dos mais fracos. A única maneira de dominar esta gente (os filhos de algo) é com a avaliação vinda de cima, do ensino superior. Sim, do mesmo modo que um professor universitário é maioritariamente (e com razão) avaliado pelo seu mérito científico, devem os “storinhos” ser submetidos a uma avaliação de cima. Não de pares, mas nos mesmos moldes que eu fui avaliada em 1992: pelo ensino superior, de onde (em teoria) vem o conhecimento. Quem não tem medo desta avaliação deve concordar.

Não senti nada pela professora do Carolina Michaelis porque eu já sabia que isto era assim. Mas não se chega assim por geração espontânea. E não se invade Lisboa por isto, que já ocorre há muito, mas porque deixa de haver progressões automáticas na carreira, o que significa menos dinheiro no bolso.

Estou inquieta porque tenho sobrinhos no início da escola. Eu sei que eu, a minha irmã e o meu cunhado somos capazes de lhes fornecer desafios, mas não podemos substituir-nos aos professores. Simplesmente porque não é essa a profissão de nenhum de nós, e mesmo que fosse não seríamos capazes de cobrir todas as áreas e todos os anos lectivos. Nem que isso fosse possível, não há na escola o incentivo para mais que passar de ano. Não há incentivo para aprender, ser rigoroso e ambicioso: os padrões são demasiado baixos. Uma sociedade só funciona quando todos confiamos no papel que cabe aos outros. E eu não confio nos professores e em quem os tutuela. É grave quando um dos sectores mais fundamentais da sociedade me merece esta confiança e este respeito.

Por isso quando o Ludwig diz neste post “É dos pais a responsabilidade de lhes ensinar a dar valor à educação”, não sendo mentira, é muito pouco. Eu acrescentaria: é do Ministério e dos professores a responsabilidade de se fazerem respeitar e de dar mecanismos para isso mesmo. E dos pais, exigirem que os professores sejam avaliados, no sentido de exigir que se saiba se eles sabem o que estão a dizer e não por critérios burocráticos. E não só pelo abstracto "respeitinho".

11 comentários:

ablogando disse...

Excelente, mas... aborda só um dos aspectos da coisa, que não é tão preto no branco! Respondo-te, logo que possa, lá no meu cantinho, dando conta do que penso que são os restantes. Entretanto, vou fazer-te publicidade.

Abobrinha disse...

Joaquim

Pouquíssimas coisas são a preto e branco, e a educação ainda menos. Mas a realidade é que os mesquinhos, as víboras e os reis de quintal dominaram a coisa.

Os que não querem saber, que querem deixar estar para levarem o ordenado ao fim do mês ou que não se querem chatear são culpados e dominam. Os que querem fazer alguma coisa levam no corpo. Até que... mexem no bolso de todos. E aí a coisa pia fino. Mas pode piar mais fino ainda, se o Ministério faz as coisas como deve ser em vez de uma avaliação menos que pobre (que é o caso, diga-se).

Custa-me mais que imaginas concordar seja com o que for que tenha dito esta Ministra. Mas quando ela disse que tinha perdido os professores mas ganho a população, acertou em cheio e fez bingo. Porque a população sempre achou que a generalidade deles tinha mais respeito, mais salários e mais regalias do que aquelas que mereciam. E não veem que podem ir 120% dos professores manifestar-se para LIsboa e mesmo deitar Lisboa abaixo que isso não vai alterar a maneira como são vistos pelas pessoas.

Isso só alterará quando os bons dominarem os fracos e os expulsarem de uma profissão que não são dignos de exercer. E isso não se adivinha para tão cedo! É tabu!

Entretanto os palermas do costume vêm dizer coisas com o mesmo sentido do costume. Só faz sentido numa coisa: se estamos à espera do tribunal... bem que morremos de velhos!

Mas a avaliação dos professores NUNCA pode vir de dentro da escola: tem que vir de cima. As escolas são no geral ninhos de víboras. Animais de sangue frio. Mas quando lhes dá o solzinho e a pessoa se mexe muito...

Joaninha disse...

Estamos quase de acordo, mas aquilo que se passou no liceu ai no Porto, foi pura e simples e total falta de educação de uma miuda mimada e ordinaria.
Desculpa, mas mesmo odiando os meu professores nunca me passaria pela cabeça sequer levantar a voz a um, quanto mais fazer uma figurinha daquelas. A senhora mãe daquela criatura nunca soube impor limites ao estafermo,tal como a maioria das mãe hoje em dia. Se tu vez estafermos daquela idade a falar asim com os proprios pais porque haveriam eles de não o fazer com os professores?

Abobrinha disse...

Joaninha

Não posso concordar mais contigo em relação ao que se passou no Carolina Michaelis... por isso é que acho entre estranho e perigoso não sentir nada por aquela professora.

Mais: sinto raiva por a senhora estar de baixa psiquiátrica, à espera de recuperar quando os meus amigos estagiários tiveram que gramar com bruxas que lhes fizeram pior que aqueles putos lhe fizeram.

Sinto raiva por um trabalhador do calçado não poder meter baixa psiquiátrica quando está doente (fica sem uma fatia jeitosa do salário).

Eu, que nunca desrespeitei um professor daquela maneira e nunca desrespeitaria e seria capaz de assentar a mão num filho que fizesse aquilo a um professor... não sinto nada por aquela senhora que esteve anos e anos LONGE do sistema de ensino, possivelmente a tecer considerações sobre como os "colegas" não sabiam lidar com as coitadinhas das crianças.

Eu nunca faria aquilo a um professor nem a ninguém. Mas não consigo sentir nada pelas imagens e pela situação em si.

Abobrinha disse...

Joaninha

É curioso como falas que estafermos daquela idade falam torto aos pais e professores. Para chegarem à praxe e serem submetidos a parvoíces e rirem porque é académico.

Eu não fui suficientemente inteligente para não ser praxada (era nova, das primeiras da minha família a entrar para a Faculdade e vinha a bem dizer da parvónia). Mas não praxei, porque aquilo era a aberração total!

Joaninha disse...

Sou completamente contra as praxes, mas não é a mesma coisa, uma coisa é tu falares daquela forma com um colega teu outra é falares com um professor ou um pai, não achas?

Abobrinha disse...

Joaninha

Pois aí é que bate o ponto: é radical e tal ser rebelde com os pais e com os professores (as autoridades), mas com os "doutores" (teoricamente os teus pares) não é! Não afrontas um tipo que tem o mesmo estatuto que tu só porque ele o diz? Que carago é isso?

Eu encarneirei porque pensei "isto deve ficar giro a dada altura"... daaaaaaaaaaaaaaasse! A minha sorte é que os meus colegas eram tão totós que nem uma praxe "decente" (leia-se violenta ou divertida ou outra coisa que não pura seca) fizeram. Foi mesmo a tempo para eu não mandar um deles para a p*** que o pariu. Ainda hoje tenho pena de ter perdido essa oportunidade de ouro!

Ou seja, os jovenzinhos têm uma dualidade de critérios muito interessante. Eu não, porque respeitei os professores sempre (os que mereciam e os que não) e não respeitei os meus coleguinhas "doutores": ignorei-os silenciosamente depois disso.

Não costumo defender este tipo de comportamento e não é bem o que defendo, mas uma coisa é certa: se a situação chegou a este ponto é porque se deixou! E quem deixou foram o Ministério e... os professores, que se viram a braços com isto há muito tempo e não fizeram nada enquanto não apareceu a porra do vídeo no you tube! Eu não tenho sentimentos pelo vídeo por isso: eu já sabia disto e pior há muito tempo! E ninguém fez nada! Nem no seu quintal nem no país. É tudo natural debaixo do sol.

Ironicamente quem se vai lixar com estes comportamentos... são os jovenzinhos, porque vão ter o dobro do trabalho e 1/5 da capacidade de encaixe para aprenderem a lidar com a frustração.

Abobrinha disse...

Joaninha

Hoje li no jornal a versão do 9º C. O que é curioso é que a professora teve o tipo de comportamento que os professores da minha irmã (que tem 37 anos) teriam: expulsar alunos quando se portam mal e coisas assim. Digo a minha irmã porque na minha altura as coisas não eram tão radicais. Teria sido esse o início da rebaldaria? Não sei! Na volta tive simplesmente sorte!

Isto é a ironia suprema: uma velha guarda de professores vs uma nova guarda de alunos. Quem ganhará?

Entretanto a senhora não está psicologicamente em condições de dar aulas... ... se fosse uma empregada de confecções, a empregada doméstica dela ou a rapariguinha da Zara, mandavam-na trabalhar! Isto é que me aborrece: uns são filhos, outros são enteados! Isto é faltar, meter atestado e baixa e o carago, que é coisa que os professores sempre usaram e abusaram. E de que é que se queixam? De aulas de substituição!

Anónimo disse...

Que conheça profundamente o funcionamento da escola/professores, duvido?
Que tece considerações globalizadas, baseada em informações parcelares (a sua experiência e de próximos) parece-me óbvio. Fica-lhe mal, e é sinal de falta de rigor científico.
Que há muito de víbora nos seus dizeres também.
Nunca vi nenhum estagiário perder muitos quilos. Nervosos? Sim, como é lógico, quando estão em jogo centenas de quilómetros nas colocações posteriores.
QUe por vezes não há a relação ideal entre orientador/estagiário ? Sim, claro.
Que não há aluno que seja mais abusado pelo sistema que um aluno universitário, tb me parece óbvio.

Rui leprechaun disse...

Isso das víboras é comigo e o meu signo chinês, ó folhinha de alface?! ;)

Também não vi esse vídeo, aliás tudo o que saia fora da harmonia dos passarinhos e afins não é p'ra mim! :)

Muito Rumi e Krishna sim!... e alta doçura assim!

Conheces alguma coisa sobre outras experiências pedagógicas, mormente a escola de Waldorf, segundo os preceitos de Steiner?

Bem, de facto esses são princípios espirituais e se é essa mesmo a nossa essência, afinal?!

Também tenho vários amigos professores, claro, mas é-me sempre difícil ser terra a terra nestes assuntos. Aliás, nem nestes nem nos outros, calha bem!!!

Por fim, a minha 1ª vocação foi a de professor primário, talvez porque gostei muito dos meus mestres e sempre adorei estudar. Trabalhar é que não... fora com esse papão! E como o mundo infantil está bem próximo do meu próprio universo, vejo a interacção com crianças como diversão e não obrigação!

Bem, isto só deve dar mesmo para a primária. No secundário é já povo mais crescido... tiro daí o sentido!

Ah! Mas este rei no seu quintal...

Rui leprechaun

(...escuta a Abobrinha doutoral! :))

Abobrinha disse...

Anónimo

Não entendo e/ou discordo da quase totalidade do que escreve. Vamos por partes:

"Que conheça profundamente o funcionamento da escola/professores, duvido?"

É verdade, mas não preciso de conhecer tudo. Sei o resultado. Chega e sobra!

"Que tece considerações globalizadas, baseada em informações parcelares (a sua experiência e de próximos) parece-me óbvio. Fica-lhe mal, e é sinal de falta de rigor científico"

Duas coisas: e vou basear a minha experiência em quê? Em relatórios de eduqueses, que deram a porcaria que se sabe? Em coisas que tentaram esconder, como o ranking das escolas secundárias? Eu baseio as minhas opiniões no que observo e no bom senso, e não no encarneiramente atrás da opinião da moda. Todo o conhecimento é parcelar. Só me fica mal ser acéfala e acrítica. Quanto a ser pouco científica, também o é quem é pago para isso. Eu diria que o meu bom senso é mais metódico que os métodos que se criaram para alegadamente organizar a escola. Estes útimos vão frequentemente contra todo o senso.

"Que há muito de víbora nos seus dizeres também."

Dado o panorama do seu comentário, vou levar isso como um elogio.

"Nunca vi nenhum estagiário perder muitos quilos. Nervosos? Sim, como é lógico, quando estão em jogo centenas de quilómetros nas colocações posteriores."

Isto ganhou o prémio de provocação mais absurda do comentário. Só quem não sabe ler não se dei conta que me referi a casos particulares que me ocorreram. Calhou serem pessoas que emagreciam com o stress (comigo acontece o oposto). O que o preclaro não se deu conta é que me referia a um caso particular de uma somatização de um estado de stress extremo. Trata-se de pessoas com cursos superiores quase terminados, que sabem trabalhar e que se desunharam em cadeiras muitíssimo mais difíceis mantendo a sanidade mental e mais ou menos o mesmo peso corpora. Mas a provocação absurda nem é essa: a provocação absurda é comparar a situação de regras do jogo difusas que é o estágio pedagógico com uma situação que qualquer recém-licenciado normal (e não só) reconhece: deslocação em busca de onde há emprego. Eu não tenho culpa, nem o Estado que não haja lugares no ensino ao pé da porta de toda a gente. E é aberrante pessoas que sabem que não há vagas no ensino de determinada área insistirem em ir exercer "a sua vocação". Isto não convence ninguém!

"QUe por vezes não há a relação ideal entre orientador/estagiário ? Sim, claro."

Quem está agora a dar mau aspecto e a ser pouco científico? E pouco solidário! Eu, que nunca dei aulas, senti pena de colegas de Faculdade pelos maus tratos psicológicos que sofreram. E não foi falta de "relação ideal": foi pura e simples falta de humanidade. E esta falta de solidariedade estende-se a todas as situações em que há um elemento mais fraco na cadeia. Os professores só parecem ser solidários... quando se lhes vai ao bolso, quando lhes mexem nos direitos adquiridos e quando se trata de faltar como se não houvesse amanhã! Em todos os problemas de indisciplina com os alunos não são nem nunca foram. E depois eu é que sou uma víbora!

"Que não há aluno que seja mais abusado pelo sistema que um aluno universitário, tb me parece óbvio. "

Isto não me parece nada óbvio. Sendo verdade em alguns (muitos?) casos, não é generalizável nem é a norma. Cheguei mesmo a ver um mesmo um certo companheirismo entre alunos e professores, repeito mútuo. Não em todas as Faculdades, claro. E pareceu-me que (por exemplo) na FLUP (Faculdade de Letras da U. do Porto) com alguns professores e alguns cursos só seria possível lidar mesmo à bofetada! Mas eu não andei lá.