quarta-feira, 26 de março de 2008

O estranho caso da relação entre o acordo ortográfico e a proposta de proibição dos pierçings

Os meus leitores devem estar habituados às estranhas relações que eu encontro entre as coisas. Há mesmo quem ache que eu não tenho mais que fazer (mas esses podem ir ver se está a chover, se não se importam!).

Desta vez sou capaz de ter ido longe demais! Pois não é que descobri a relação entre o acordo ortográfico e a proposta de proibição dos pierçings? Confusos? Confesso que também estou um bocadinho, mas isso é o meu estado natural e não é de todo preocupante.

Dizia o jornal “Público” um dia destes a propósito do projecto de lei do deputado do PS Renato Sampaio, que “médicos e “body pierçers [...] são unânimes: cada um deve ter o direito de decidir o que fazer com o seu corpo e esta prática não representa qualquer perigo de saúde pública”. Não é bem assim, mas vamos ler mais umas coisas:

“As zonas que poderão oferecer maiores problemas à colocação de um “pierçing” são as áreas mucosas, como a língua ou o nariz, onde a cicatrização poderá ser mais demorada.”

“O problema é que a maioria destas perfurações é feita por jovens que não têm uma higiene oral adequada levando à criação de bactérias e acumulação de cálcio o que se torna prejudicial. “Se a língua do cliente tiver demasiadas veias, vasos sanguíneos ou freios não podemos perfurá-los.”

Portanto, um grande problema parece ser a língua. Digo eu que já há más línguas que cheguem. Não é preciso juntar cálcio, bactérias e sangue à porcaria. Além de que juntar "perfurar" e "língua" na mesma frase... não me parece bem!

Mas o que é que isto tem que ver com o acordo ortográfico? Curiosamente só migrando mais para sul num bom pedaço de carne (aka corpo humano) é que se entende. Aliás, há muita coisa que só faz sentido no meio das pernas e este é um bom exemplo!

“O “Prince Albert”, nome pelo qual é conhecido no meio o “pierçing” genital masculino, é colocado na glande e sai pela uretra.”

Ha! Ha! Ha! Além de um nome parvo (que homem quer ter um “Prince Albert no meio das pernas?), digo eu que isto ainda faz falar mais fininho que um procedimento à Farinelli!

“O feminino, ou “pierçing clítoriano”, é feito, tal como o nome indica, no clítoris.”

Eeeeek! Até dói só de pensar!

“Normalmente cada pessoa faz entre um e três ‘pierçings’ genitais, mas também há quem tenha 100 e isso já não considero saudável” diz um body pierçer… obviamente que a minha noção de saudável e a dele diferem qualitativa e quantitativamente. Mas ele também não me perguntou a opinião!

E o acordo ortográfico? Ah, já me esquecia! Ora bem, o acordo ortográfico foi uma outra iniciativa a nível governamental para defender a lingua portuguesa. Não de cálcio, bactérias e sangramentos mas de… do… dos… … … mmm… de outra cena qualquer que assim de repente não me ocorre. Foi concluído o documento em 1800-e-troca-o-passo ou coisa que o valha e até agora… nicles! Se fosse ao ano, seria como os burros, mas nem isso! Mas 18 anos… pá, está na maioridade! Já pode tratar a professora por "tu" quando a agredir para lhe tirar o telemóvel!

O pierçing genital, ao contrário do que dizem dermatologistas e body pierçers não é um problema de saúde pública, mas um problema de língua portuguesa resolúvel facilmente ao abrigo de uma adenda ao acordo ortográfico: é que “público” tem um “l” a mais! Na realidade, o pierçing genital é um problema “púbico”. Se o instrumento tem muita rodagem, aí o “l” pode ser opcional (mas não convém).

Reparem mesmo na letra que se pode dispensar: o fálico “l”. Não podia ser o “b”? Não! Entre outras coisas porque não creio que exista a palavra “púlico”. Mas também porque a dispensar o “b” estar-se-ia a dispensar uma letra grávida. E isso não pode ser, porque é contra a lei geral do trabalho. A não ser que o “b” seja masculino, e nessa altura é mesmo só uma barriga de cerveja. Que, a julgar pelo afinco de alguns, dir-se-ia ser espécie protegida (embora não em vias de extinção).

A quem duvida que o problema seja de língua portuguesa, considere por um momento sexo oral num equipamento modificado por um pierçing… nem é bom pensar! Um pouco metálico, não? E se a língua também tiver um pierçing? E aquela porra não engata no outro? Mmmm… bem, aí podia ter as suas virtudes! Era definitivamente o fim das rapidinhas! Possivelmente o fim do sexo também, mas eu não disse que era capaz de resolver os problemas todos!

Fica por debater o problema das tatuagens, mas eu acho que já escrevi porcarias suficientes por hoje. Mesmo porque já debati o problema do pi-pi e da pi-linha noutro lado. Só tinha uma vantagem em relação ao pierçing genital: é que o pierçing genital exige a opinião de especialistas em ginecologia, enquanto que para a tatuagem é preciso a opinião de especialistas em problemas… cutâneos…


Já agora, um purista da língua portuguesa pode argumentar que eu escrevi mal pierçings, porque o “c” não leva cedilha (antes de “e” e de “i” não há necessidade e é erro). Dito isto, e dado o exposto anteriormente, se há sítio apropriado para meter um penduricalho pequenino e frouxo ao abrigo do novo acordo ortográfico parece-me mesmo ali! Vou por isso propor que “piercing” seja considerado erro e substituído com muito mais vantagem por “pierçing” numa segunda adenda ao acordo ortográfico! Vendo bem as coisas, foi o máximo de sentido que fiz até agora! E isto porque eu não propus que se considerasse o pierçing medicamente como uma prótese de um pintelho... ooops... acho que acabei de fazer isso mesmo!

8 comentários:

Bruno Fehr disse...

"e há sítio apropriado para meter um penduricalho pequenino e frouxo ao abrigo do novo acordo ortográfico parece-me mesmo ali"

Eu nem sei o que te dizer...

Quanto ao texto... também não sei o que te dizer...

Nao é fácil deixarem-me sem palavras, mas esta tua analogia entre piercings e o acordo ortográfico, conseguiu.

T disse...

Quando queres és interessante... um pouco exdrúxula!!!, mas interessante.

Abobrinha disse...

Filhinho

Tenho os meus momentos de inspiração! Mas deixar-te sem palavras, pelo que tenho visto do teu estabelecimento, é realmente complicado! Aceito isso com um grande elogio!

Estabelecimento que merece uma visita com mais calma, mas não tenho tido tempo. E ainda te devo umas respostas.

Abobrinha disse...

T

Não é quando quero: é quando calha! E desta vez calhou mais ou menos como eu queria!

Não sou esdrúxula: sou é pouco grave. A cantar e quando irritada sou mesmo um pouco aguda. Sobretudo, falo bem alto!

T disse...

ops, obrigado.. mas poderia ficar assim.. ex- brúxula!
afinal é uma letrinha grávida!!!!

Abobrinha disse...

T

Mmm... es-brúxula... pois... mas o que é que isso vai parir? Um monstro possivelmente! Na volta é melhor es-drúxula, porque o "d" não está grávido mas tem um rabo grande. E toda a gente sabe por esta altura a importância de ser um bom pedaço de rabo!

Tisha disse...

Dps de muito tempo de ausência, voltei! Ficar em casa doente, de cama, afinal tem as suas vantagens! Finalmente tirei umas horitas para ler todos os post's e mesmo com a neura consegui rir que nem uma perdida! E Viva os anónimos que continuam a animar a casa ;)

Te Pup*

Rui leprechaun disse...

Ah... vá lá!!! Eu estava algo admirado se a notícia transcrita do jornal tinha mesmo esse "ç" mas a deliciosa explicação final é convincente! :)

De resto, isso de piercings e tatuagens não me parece lá grande moda, convenhamos... Enfim, os brincos na orelha furada são uma forma de piercing e um ou outro mais discreto não está mal.

Pois bem, questões estéticas e de gosto pessoal...

Rui leprechaun

(...e eu prefiro a Abobrinha no quintal! :))