domingo, 2 de março de 2008

Toda a verdade sobre o tabaco

Nunca soube o que era estar num bar ou café sem tabaco, até que no dia 1 de Janeiro do ano do Senhor de 2008 se implementou a lei do tabaco.

Agora quando se vai agora a um bar, a primeira coisa que salta à vista é a a falta de uma cortina de fumo. Isto permite ver com mais clareza, o que se torna um problema quando a conclusão é igual à que tantas vezes já aqui referir: há uma falta crónica de pessoas que valham a pena assediar! É muito ruim. Dramático, diria mesmo!

Nos tempos em que havia uma cortina de fumo, ao menos a coisa disfarçava! Era um pouco como ser míope: não se distinguiam os pormenores à distância. O que me levou a pensar se não seria sensato e mesmo viável começar a frequentar bares e cafés sem os óculos nem lentes de contacto: é que eu não vejo um boi a mais de 3 metros e só a cerca de meio metro vejo os pormenores. Com a luz certa, preciso de ainda mais proximidade! Por outro lado, se alguém me estiver a lançar olhares, a fazer joguinhos, não vejo! De novo, a não ser que a paisagem se altere de modo a justificar que eu leve óculos ou lentes, não faz diferença... mmm... bem... à cautela é melhor ver o que me rodeia! Posso perder alguém que valha a pena!

O cigarro, com o seu cheiro característico e pestilento de carago disfarçava ainda uma série de cheiros nauseabundos, como o característico retrete nº 3, flato nº 2 e sovaco nº 5 (este último só a fumadores, que eu sempre tive olfacto suficiente para distinguir). Neste aspecto tenho que dar razão ao Bizarro, mas o cheiro a SG Gigante nº1 também não é grande alternativa. E os fabricantes de perfumes e desodorizantes também têm que viver. E assim se incentiva a limpeza das instalações para evitar o cheiro a cagadeira.

O principal drama da falta do cigarro é que também torna mais complicado esconder que um gajo está sozinho. Quando era possível fumar disfarçava-se naquela de “sabes, eu não vim aqui para o engate! Eu vim para tomar um café ou uma cerveja e fumar vários pensativos cigarros, porque fumar é um exercício de liberdade e mesmo de cidadania. Porque com este simples gesto estou a pagar imensos impostos e a contribuir para o bem do país e mesmo do mundo”. É verdadeiramente impressionante a quantidade de coisas que diz um cigarro! Fora o óbvio “eu cheiro mal e estou a candidatar-me a um cancro”.

Estão a ver que sem um cigarro um gajo está só ao engate! Um drama que até pode ser benéfico do ponto de vista da saúde pública, mas que terá efeitos desastrosos e não contabilizados (possivelmente por ser um disparate) a médio e longo prazo em termos de natalidade.

Então e os não fumadores? E o que é que isso interessa, pode-se perguntar? Se um gajo não tem um vício, para que é que quer engatar seja quem for? Assim como assim, está a candidatar-se a santo, e os santos não andam ao engate: passam os seus dias e horas a fazer a contabilidade das suas virtudes e a tentar fixar um preço para irem fazer sala para o céu! O que lhes rouba todo o tempo!

Meter conversa torna-se complicado! Dado que nem todas as gajas levam consigo revistas de decoração (se bem que se essas quisessem ser engatadas levariam revistas de gajos nús), a frase “tens lumes?” torna-se uma impossibilidade. Neste aspecto os fumadores mais uma vez ganharam porque além de se encontrarem todos lá fora, podem trocar cromos sobre o frio que está. Palavra puxa palavra e pode abordar-se o tema de métodos e estratégias de colmatar o frio. Nomeadamente o conhecido método de ir para qualquer lado, tirar a roupa toda ou quase toda e fazer coisas que envolvem elevado gasto calórico (se feitas em condições) e consequente geração de calor. Naturalmente que aos não fumadores fica a tarefa mais desafiante de ultrapassar todas essas barreiras para ter o mesmo resultado. E a não cheirar mal!

Uma dificuldade de ser não fumadora veio de uma situação que não antecipei e me sucedeu um dia destes. Tomava eu o meu pensativo café quando entraram dois cidadãos e uma cidadã. Fiz contas de cabeça e um dos cidadãos não era o companheiro da cidadã. Estava eu a ponderar (discretamente) se o cidadão era, só pelo aspecto, merecedor de assédio, quando a cidadã se vira “ah, mas tu queres fumar”. A frase fez pender a decisão para: não tem suficiente bom aspecto para me fazer esquecer o sabor e cheiro a tabaco. E desinteressei-me.

Pensando no que os meus pulmões e dos outros cidadãos não sofreram, desabafei para o cidadão empregado do café “bendita lei do tabaco!”. Um olhar incrédulo e mesmo reprovador do rapazinho fez-me acrescentar “assim têm que ir lá para fora” e ele não ficou muito satisfeito. Aí apercebi-me que o cidadão fumador era também mais dotado de melanina que o vulgar cidadão europeu. Por outras palavras, era de cor. Ou negro. Ou preto!

Um desabafo de saúde pública e de qualidade de vida tornou-se num desabafo racista? Ora eu não sou racista! Simplesmente aquele cidadão ia incomodar-me com o seu cigarro e não o fez. O tom de pele dele era-me perfeitamente igual. Quem entender isso como racista tem dois trabalhos: entender mal e corrigir o que entendeu. Azar! Mas por aqui se vê a minha falta de sentido de oportunidade. Para a próxima terei o cuidado de só dirigir os meus desabafos anti-tabágicos a cidadãos brancos. Evitarei orientais e minorias religiosas. Os ateus devem ser seguros (mas nos dias de hoje nunca se sabe!).

1 comentário:

Rui leprechaun disse...

E ainda ninguém fez uma curta-metragem sobre o teu relato?!

Bem, detestas mesmo o tabaco tanto como eu, já vi! É isso, não posso meter nenhum fumador cá em casa, claro.

E vê lá tu que descobri ainda mais uma... outra!... afinidade: míopes somos com urbanidade! :)

Só nisso do assédio é que eu sou nédio!

Um leitãozinho para assar...

Rui leprechaun

(...bem tostadinho a estalar! :))