A leitura desta reportagem do Expresso suscitou-me sorrisos, risos, lágrimas e uma imensa saudade das minhas avós. Uma delas seria mais ou menos da idade desta senhora se ainda fosse viva e tinha a frontalidade e espírito terra-a-terra dela. Mas uma sorte inteiramente diferente em termos de casamento porque o meu avô e ela tinham um respeito e um companheirismo muito grandes e funcionavam em equipa. Uma equipa de sucesso.
A jovem Maria Custódia julgava-se viúva. Eu também assumiria isso se tivesse 94 anos e um escroque me tivesse abandonado há 57 anos e fosse tão novo como eu. Mas o marido estava vivo e queria o divórcio. E o que disse a senhora a isto?
"Foi um alívio, porque ele não merecia que eu fosse mulher dele. Disse-lhe isso no tribunal e ele nem respondeu."
O que é que havia a responder? Era verdade! Um tipo que desaparece de casa e ao fim de 57 anos (possivelmente por causa de heranças de outros filhos de outro casamento) ainda tem a lata de mandar o tribunal avisar a mulher que se quer divorciar dela não vale muito. Mas por óbvio que seja, não deixa de ser uma afirmação poderosa de uma senhora analfabeta e muito mal tratada pela vida.
A preocupação da senhora foi mudar o bilhete de identidade e olhar para a frente. Pode ter 94 anos, mas continua com uma frescura de espírito que mulheres e homens com uma fracção da idade dela não têm. Eu incluída.
Deu-me vontade de chorar quando li que ficou com 2 filhos para criar, chegou a passar fome e teve uma vida muito dura. Nada de extraordinário e que vem de encontro ao que diz o meu pai dos nossos anciãos: tem muito respeito por eles porque são sobreviventes de tempos muito difíceis e em que estar vivo é uma sorte. Nós (eu também) queixamo-nos de tudo e de todos quando levamos uma vidinha de aviário: protegidinhos de todas as inteméries, com o suficiente para comer e beber. E quantas mulheres têm a naturalidade de dizer o que disse aquela senhora de um homem que não as tratou bem? Quantas ficariam agarradas à santidade de um casamento que não o era e possivelmente nunca o foi?
A jovem Maria Custódia, como muitos, não foi de baixar os braços perante as adversidades e tem uma vontade de viver muito grande, que é o que possivelmente a mantém viva. O objectivo é como o meu: chegar aos 100 anos fresca.
"Se conseguisse havia de dançar muito nesse dia"
Eu já era capaz de não dançar porque era capaz de causar estragos, mas adiante.
Deu-me de novo vontade de chorar ao ler que a senhora passa dificuldades. Mas ela é uma sobrevivente e vai sobreviver a mais este revés. Já livre de um velho da idade dela que nunca lhe fez falta em primeiro lugar.
No meu blogue pode não se aprender nada, mas com o exemplo desta senhora aprende-se muita coisa.
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