domingo, 20 de abril de 2008

Um café, um divórcio e meia adopção, rápido que eu estou com pressa

Este é um post que ando para escrever há muito tempo por causa de não me ter conseguido explicar no blogue da Joaninha neste post já do fim do mês passado (ver os comentários). No blogue do Ludwig hoje, mais uma vez, meti os pés pelas mãos e não fui capaz de me explicar, o que se torna um padrão perturbador. Particularmente para mim, que gosto de ser capaz de exprimir as minhas ideias de modo claro e inequívoco. Possivelmente o tema em si foi o problema.

Com a Joaninha falava-se de liberdade nos relacionamentos. A liberdade de ficar ou de ir embora. Meti os pés pelas mãos quando o que eu queria explicar era muito simples: para mim isso não é sequer questão! Para pessoa nenhuma de bem e de bom senso isso é questão! Se a pessoa quer ir embora vai, independentemente do motivo. Independentemente de ter razão, independentemente de tudo, simplesmente acaba por se ir embora se o quiser.

Quem fica pode chorar, pode chorar muito, pode chorar mesmo muito, pode pedir muito para essa pessoa não ir, pode mesmo ter actos irreflectidos ou irracionais dos quais se arrependerá mais tarde mas isso não altera o facto de que a pessoa se pode ir embora quando quer.

Eu acho que não sou obrigada a encarar isso com naturalidade quando isso me envolve a mim, porque me apego às pessoas. Apego-me às pessoas com intensidade demais para despegar com facilidade ou superficialidade. Quando me torno superficial, então é que temos um problema. Ou o problema resolvido, conforme a perspectiva. Não é fácil e é um processo que me chega a demorar anos. Mas não se altera o facto de que há liberdade para sair fisicamente da relação, mesmo porque isso (repito) nunca foi sequer uma questão. Emocionalmente é que controlo a coisa tão bem como qualquer um: não controlo. Tão simples como isso, pelo que não entendo a dificuldade em exprimir uma ideia e um facto tão simples. Ou talvez a extrema simplicidade seja precisamente o problema. Talvez porque simplicidade e facilidade não sejam sinónimos.

A lei do divórcio de que fala o Ludwig e a que tão acertadamente deu o título "treta da semana: o contrato" fala desta mesma realidade (daí eu me ter embrulhado), com mais uns pozinhos de complicação. Os pózinhos são as responsabilidades parentais e económicas, mas vou focar-me essencialmente no casamento em si. E a verdadeira treta é mesmo essa: o contrato. Um casamento não é um contrato mas um assumir público e perante a sociedade de que se quer viver como casal.

A base é a mesma: não se pode prender ninguém, nem querendo muito. Duas pessoas ficam juntas quando querem ficar juntas. Quando uma, seja por que motivo for, não quer... a relação acabou por definição! Custe a quem custar, dure os anos que durar a sarar uma feridas dessas e mesmo a aceitar... acabou! A lei acompanhou o sentimento: se só está um no casamento, então ele não existe por definição. Não se pode prender quem não quer estar preso.

A abolição da culpa é outra justiça flagrante. Mas abolir a culpa não é o mesmo que dar uma desculpa para fugir às responsabilidades. E aí a justiça tem que estar atenta e ser muito rápida.

O título deste post é uma resposta a quem diz que se deve "defender os valores da família": num casal, quando eles existem, não precisam de ser defendidos. Quem quer divorciar-se rapidamente, então deve divorciar-se rapidamente porque não quer ou não merece estar casado. Porque uma relação de amor é uma relação construída por dois adultos capazes de se safarem sozinhos no mundo. A jovem do meu post anterior sabe isto. Isto é inteiramente diferente de uma outra proposta de lei sobre meia adopção de crianças. Não encontro referências, mas nem me vou preocupar com isso porque o tema é tão parvo e despropositado que nem interessa a ninguém.

É que, se não se pode prender um adulto a outro, é de toda a conveniência prender uma criança a um adulto. É nesse adulto, alguém a quem chame pai ou mãe que ele vai encontrar grande parte da solidez e estrutura para uma vida futura. Como não é sério pretender prender um companheiro a uma relação, não é sério querer soltar um filho de um pai. A liberdade que é desejável e natural numa relação entre adultos não é válida para uma relação entre um pai e um filho. Pelo que um filho não deverá ser confrontado com qualquer tipo de "meio vínculo" com a pessoa a quem quer chamar pai.

Ninguém de bem quer um divórcio rápido e porque sim (se quiser não é de bem). Mas ninguém de bem quer uma adopção superficial e sem responsabilidades. Não se pode ninguém a ser casado; não se pode obrigar ninguém a ser pai. Mas não se pode obrigar quem quer ser pai a sê-lo pela metade.


E mais uma vez escrevi um texto com o qual não estou satisfeita porque não exprime completamente o que quero dizer, com palavras a mais e muito embrulhado; com a agravante de que possivelmente me vou arrepender de o ter publicado. Mas achei que o tinha que pôr cá para fora, mesmo porque foi um texto que me doeu a escrever.

19 comentários:

Anónimo disse...

Há épocas em que nunca estamos satisfeitos com o que pretendemos fazer, na escrita também, no modo de falar idem.
Aqui entre nós estas de TPM.

Anónimo disse...

estás de TPM! para que não entendas mallllll.:P

Abobrinha disse...

Tensão pré menstrual foi coisa que nunca me afligiu. O que me aflige mais é quem não é capaz de ver outra fonte de insatisfação ou irritação numa mulher que a porra da TPM. E isto é mais válido para mulheres que para homens, porque as mulheres têm menos desculpas!

Rui leprechaun disse...

Ena, mas que grande testamento!!! :)

Vês, é outra coisa que temos em comum, palramos que nos desunhamos! ;)

Nem li ainda tudo o que escreveste, mas quando referiste esse apego às pessoas, tal recordou-me de imediato algo belíssimo e que corresponde mesmo àquilo que sempre senti. Bem, eu também sou bastante desapegado de tudo, verdade seja dita... ó tão bonita! :)*


Seja grato aos que se vão: logo virão novos e bons amigos.
Não persiga os que se afastam de si. Abandone o seu apego. Eles vão embora porque já cumpriram a tarefa de contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento da sua alma. Não guarde ódio ou rancor de quem se afasta de si, pensando que foi traído(a). Se uma pessoa se quer ir embora, agradeça-lhe por tudo e deixe-a partir. Nesse momento, prepara-se uma "vaga" a ser ocupada por um(a) novo(a) amigo(a) ou um novo(a) namorado(a).



Este pensamento muito sábio e certeiro estava num calendário chinês belíssimo, que me foi outrora oferecido por uma Amiga que já partiu irreversivelmente.

Logo, um dia teremos de largar tudo e vai ser muito mais fácil se não nos deixarmos prender nem a posses materiais, nem a pessoas, nem a situações.

E o desapego não significa desinteresse ou frieza, ser desprendido não tem nada a ver com isso. É apenas um sinal de liberdade interior e pleno respeito pela liberdade do outro, que é tão livre como eu e tu... love is free, don't you agree?!


O Amor total realizado
É a aceitação plena do Amado.
No coração imune à dor
Reside a perfeição do Amor.



Olha, apareceu a Alma lindíssima do Japão... e eu a tenho no meu coração! :)

Até já... estou sempre cá!!! :)*

Rui leprechaun disse...

Pronto, já li tudo, que a linda gueixa foi embora porta... ou cancela!... fora! :)

E não está nada embrulhado nem confuso, acho tudo claro como água no que dizes do casamento e sua dissolução e estou de acordo, pois então!

Não de experiência própria... sou um indómito celibatário ascético!... mas porque o afecto não pode prender mas sempre libertar.

Olha, embora não sejas grande fã de poesia, vou deixar aqui algo que provavelmente já conheces, mas vem ao encontro do que escreveste. O poeta e pintor Khalil Gibran, nascido no Líbano já em finais do séc. XIX. Do seu famosíssimo livro "O Profeta", o poema sobre "O Casamento":


Almitra falou de novo e disse:
- Mestre, que pensais do Casamento?

Ele respondeu, dizendo:

- Nascestes juntos,
juntos ficareis para sempre.

Ficareis juntos
quando as asas brancas da morte
dispersarem os vossos dias.

Sim, ficareis juntos
até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haja espaço na vossa comunhão;
e que os ventos do céu
dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo
entre as praias das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão,
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações,
mas não a guardar um ao outro.

Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.



And to love one another... each one has to love himself and herself dearly!!!


The most loving person is the person who is Self-centered. (...) This losing of the Self in a relationship is what causes most of the bitterness in such couplings. (...) Your first relationship, therefore, must be with your Self. You must first learn to honor and
cherish and love your Self.
You must first see your Self as worthy before you can see another as worthy. You must first
see your Self as blessed before you can see another as blessed. You must first know your
Self to be holy before you can acknowledge holiness in another.


Neale Donald Walsch, "Conversations with God" (Vol. 1)

Abobrinha disse...

Leprechaun

Lê bem e tenta ver o que temos em comum. Deixa que eu respondo-te: NADA! Pois se de um texto tão literal e tão óbvio tiraste a conclusão errada, não sei que te diga!

Quanto aos lençóis de texto que deixas com citações do Tao-não-sei-o-quê e do Segredo, espero que tenhas consciência que eu não os leio. E arrisco-me a dizer que mais ninguém.

Quanto à gueixa, eu arriscaria dizer que ela não gostará de saber que se fala (embora sabe só Deus o quê) dela num blogue sem o seu conhecimento e insinuando uma intimidade imaginária (mas que pode ser entendida como real). É só um palpite, porque eu também não gosto que fales de mim como falas em outros blogues.

Rui leprechaun disse...

Mas qual Tao e qual Segredo... é só um calendário e o Gibran!

Que corroboram por inteiro o que dizes no teu texto, a saber: Se a pessoa quer ir embora vai, independentemente do motivo.

Porque deve haver total liberdade e responsabilidade individual nos relacionamentos, claro.

Bem, talvez tenhas lido Gibran de uma forma muito idílica. O importante aí é que ele sublinha a individualidade de cada um no casal , mas é demasiado poético para um espírito tão prático, já vi! ;)

Por fim, vou abrir um novo tema no fórum Sombra sobre o sempre actual e palpitante assunto dos relacionamentos, em especial os românticos, com excertos da tradução portuguesa do capítulo 8 do mui conhecido livro de Neale Walsch. Depois cá venho anunciar, mas é já esta semana!

E lembra-te que Humani nihil alienum ou Nada do que é humano me é estranho, nas sábias palavras de Terêncio.

Século XXI aC ou dC...

Rui leprechaun

(...é tudo o mesmo, ora vê! :))

Anónimo disse...

humm..hoje o Gargamel está inspirado!
arrajou até uma gueixa! :)

Rui leprechaun disse...

Olha o Raiozinho de Sol...

...que assim brilha cá prò troll! :D

Oh... mas a gueixa lindíssima hoje não veio e eu aqui de madrugada à espera da Cerejinha... tão amorosa e docinha! :)

Bem, vou ter de lhe dizer que me farto de falar dela aqui, mas a Menina já nem liga patavina a estes disparates e dá-lhes o desconto que é devido aos vates.

Aqui a Chefinha é que não e quer-me engolir no alçapão! :o)

Deveras, eu adoro ver as jovens almas desabrochar como pétalas de rosa ao luar... ou um raiozinho de sol, meu romântico farol! :)*

E outrora, há tantos tantos anos...

...sakura tree era um pezinho de feijão...

Rui leprechaun

(...a crescer e florir no coração! :))

Anónimo disse...

ahahahahah! ó pá!
estás a deixar nervosinha a amiga abobrinha.
Pois digo-lhe que simpatizo imenso com ela. já me aprontou muitas, mas, gosto dela.
Aliás nada tenho contra ninguem, e isso é bom sinal.
Pior, algumas vezes estranhamos uma à outra.
mas ela é criativa e muitoooooo

E nem imagino porque cantarolas para ela!

Abobrinha disse...

Raiodesol

Bem, se não incomoda tudo bem. Se incomodasse apagava o comentário. Este passou das marcas e está como os putos: a testar os limites. Ora eu não tenho filhos daquela idade!

Mas quando passar das marcas de novo, começo de novo a apagar comentários.

Djinn disse...

Sem dúvida que tens razão, não se pode prender ninguem.Quando o meu casamento acabou, acabou porque eu senti q me tinha apaixonado por outra pessoa e era incapaz de manter o casamento, mesmo quando a pessoa de quem gostava me disse à 3 anos atrás q optava ficar com a namorada. Segui a minha vida sem hesitar, e à uns meses atrás eles acabaram e ele tem-se aproximado de mim com avanços e recuos, querendo ter uma relação, mas com imenso receio de sofrer de novo.
Tenho feito o possível para lhe demonstrar q estou lá por ele, e que se esperei três anos se ele de facto gostar de mim...terá compensado a minha espera, porque o q tivemos foi uma história não vivida...
Mas é como dizes...se ele partir nada poderei fazer para o impedir... e isso dói...

Abobrinha disse...

Djinn

Não sei que te diga: estou cansada também se sofrer e de não poder fazer nada. Podia debitar uma série de lugares-comuns, mas que não adiantariam nada.

Não sei se adianta lutar por alguém. Não sei se é opção. Já me disseram que não e confirmou-se: perdi-o, independentemente do que fiz (não foi a primeira vez sequer)! Tu mesma falaste de um moço a quem partiste o coração no teu blogue (ou era gozo?).

Às vezes há coisas que simplesmente parece que não têm mesmo que ser e tem que se seguir em frente. Às vezes há opções melhores... e a vida seria perfeita se soubéssemos escolher facilmente!

Mas eu sou a pior pessoa para falar destas coisas: sofro que nem um animal ferido quando algo acaba, e por muito tempo. Por isso... força, miúda! És linda, és interessante e há mais peixe nesse oceano imenso. Ou esse peixe, se for o caso. E depois, há carne, mas não vamos entrar em badalhoquices.

Djinn disse...

Abobrinha: O meu grande problema, é que depois de muita resistência, ele voltou á minha vida...tentei impedir que o fizesse com medo de ser magoada, mas como tudo parecia indicar que ele queria desta vez livre, tentar uma relação, fui deixando que ele entrasse devagarinho na minha vida.
No entanto dá três passos em frente e um para trás...
Parece ter medo...Não quer nesta fase assumir a relação (e tudo bem eu entendo embora me magoe) e então se por um lado é capaz das maiores provas que quer estar comigo se preocupa e gosta de mim, por outro toma atitudes bizarras...

Tal como tu sofro imenso porque quando me entrego é integralmente, e tenho muita dificuldade em lidar com relações abertas e coisas do género :(

Sabes...às vezes penso em o mandar embora e acabar com o meu sofrimento..
Outras...penso e se estou a ser injusta e ele apenas precisa de um pouco mais de tempo...

Não gosto de «e se» na minha vida, por esse motivo mantenho a situação até que em definitivo me aperceba que ele não gosta de facto de mim, então parto...
Mas não é fácil...

Obrigada pelo apoio..:)

Djinn disse...

Parti o coração a alguém? não me recordo, onde?
Não sou de partir corações a ninguém :)

Abobrinha disse...

Djinn

Referia-me a este post e ao moço que queria casar contigo. Não percebi que percentagem era gozo. Olha que bonitona e de tomates como és, não acredito que não tenhas despedaçado uns corações pelo caminho! Ou então anda muita gente a precisar de óculos!

Só uma coisa: independentemente de tudo, tenta manter pelo menos a amizade. É importante. Para mim é muito importante.

Djinn disse...

Abobrinha: Sabes, ele não consegue ter só amizade por mim...e tb te digo que é dificil ter só amizade por ele...no passado afastei-me dele exactamente porque não conseguiamos manter só a amizade. Tentamos mas não resultou porque sempre houve muito mais além disso.
Se o que temos neste momento vai durar, ou evoluir para algo estável não é possível saber...only time
E acredita que a amizade dele é muito importante para mim, porque se não fosse acredita, ele fez tanta asneirada..que eu ja nao estaria lá por ele...


Ah sim é verdade ja me lembro, então ele foi um amor de verão mas nunca me esqueceu diz ele e volta não volta lá me pede em casamento.
E claro esta a falar meio a brincar meio a sério :)

Abobrinha disse...

Complicado, moça... resolve as coisas à melhor maneira e de modo a seres feliz. Odeio sofrer, mas às vezes faz-me sentir viva! Faz-me sentir que me atiro à vida com garra, embora sofra por vezes (leia-se: com frequência).

Faz-me sentir que ainda não adormeci o meu coração, que não perdi a fé e que o que sofri não me fez arrumar as botas de amar e ser amada. Mas às vezes é complicado, eu sei...

Força nisso, moça!

Djinn disse...

Obrigada :)