sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quem estava bem na caminha eras tu!

O Marco Fortes, admito que num momento de frustração, cansaço e falta de tacto disse que estava bem era na caminha com as perninhas esticadas. Foi mau, foi muito mau, não devia ter dito isso e foi punido (e bem) com uma expulsão "elegante" da comitiva portuguesa de Pequim. Ora o Marco é um puto, o único atleta da modalidade que representa assume o que disse. Ontem ouvi-o a dizer algo que faz sentido: tentou disfarçar a frustração com humor (correu mal!) mas admite que não devia ter dito aquilo.

Disse ainda que vinha de um meio desfavorecido e que só o atletismo lhe permitiu ser o que é. Se assim é (não tenho como verificar), todo o dinheiro que se gastou com ele foi bem gasto e não se fala mais no assunto! Resta prepará-lo, aos restantes atletas de alta competição e pretendentes para terem espírito competitivo e dignidade nas derrotas como nas vitórias e serem cidadãos de valor quando acabarem a carreira. Marco, estás perdoado! Voa também para o infinito, nem que o infinito seja um último lugar esforçado.

O que há que repensar é a missão olímpica, como todas as outras coisas. Vamos lá para ganhar medalhas ou para dar exemplo de dedicação e esforço honesto aos cidadãos e incentivar a prática de desporto? Ou para formar cidadãos, como o Marco (que está a caminho de se tornar uma pessoa melhor)?

A pior prestação portuguesa dos últimos tempos passou a melhor. Porquê? Pela excelência individual! Por dois atletas esforçadíssimos e não pelo esforço de uma equipa. O que se passa é que sempre fomos maus a jogar em equipa, o que se vê melhor no futebol: estas últimas equipas não terão as melhores individualidades de sempre, mas juntos funcionam bem e têm bons resultados.

Se um dia chegarmos a campeões da europa ou do mundo em futebol será pelo esforço de uma equipa e não porque um Cristiano Ronaldo sozinho é genial e o Ricardo não mama uns frangos. Já uma medalha de ouro no triplo salto só exige um rapazinho relativamente franzino que arrepia um país quando chora e se vira para a câmara a dizer "obrigado Portugal" com uma bandeira toda assinada quase maior que ele aos ombros. E uma de prata devida a uma mocinha muito franzina mas que corre que nem o diabo e tem a descontração de dizer que não falha a treinos por causa de gravar spots publicitários, que tem uma medalha de prata ao peito a saber a ouro e reconhece que tem facilidades que o pai não teve.

A desculpa que tem o Marco Fortes não tem o Presidente do COP, Vicente Moura. Este não saltou, não correu, não marchou. Mas mandou saltar, correr, marchar e viu como estava a comitiva. Aliás, não viu! E se não viu, na volta foi porque enquanto o Marco andava a atirar com bolas feito parolo e a trabalhar o corpo ele estava bem na caminha! As coisas não correram bem e não passaram a correr bem porque o Nelson Évora com a Vanessa Fernandes fizeram um brilharete. As coisas correram mal! E nem só de medalhas se vive, mas da prestação honrada e esforçada de todos os outros atletas. Se as coisas correram mal, o mínimo que tem o Vicente Moura que fazer é seguir o exemplo do Marco Fortes: assumir que fez asneira (o oposto é assumir isso e depois dizer que afinal não é bem assim). E afastar-se, para deixar alguém que saiba fazer o que ele não fez: ensinar os olímpicos a trabalhar em equipa.

5 comentários:

ablogando disse...

http://31daarmada.blogs.sapo.pt/1730855.html

Xiquinho disse...

Aboborinha Pequenina,

Infelizmente a censura chinesa, sempre atenta, não deixa passar estas notícias tão honrosas para Portugal. Em vez disso, preferem destacar a outros assuntos:

A imprensa chinesa elogiou hoje o campeão olímpico Nelson Évora, retratando o atleta como o 'Deco do atletismo', referindo-se à obtenção da nacionalidade portuguesa, e destacando a conquista do primeiro Ouro para Portugal em Pequim.

«Apesar da chuva forte e do vento, Évora ganhou a primeira medalha de ouro de Portugal nestes Jogos Olímpicos, com as suas melhores marcas deste ano», referiu o Titan Sports, o principal jornal desportivo chinês, distribuído por todo o país.


In Sol

Assim se vê a diferença do bom senso de quem perde tempo a criticar os dentes da menina... e os outros...

Abobrinha disse...

Xiquinho

Se a China ainda não censurou o meu blogue, a censura não pode ser assim tão má ;-)

Não acho de todo o Nelson Évora como o Deco: acho que os "nossos" africanos são vistos como "nossos" enquanto que os brasileiros são mais de lá que de cá. Mas isso não quer dizer nada para mim: quem se sente português, aceitando-nos com os nossos muitos defeitos e virtudes para mim é português. Isto vale também para o Obikwelu, que nem é um português dos "nossos", mas sente-se como um de nós. E é um querido.

Mas isso é conversa entre nós, e nada que interesse a um chinês. Só o facto de saberem quem somos e onde estamos já é por si só extraordinário, porque somos uma migalhinha ao pé daquele colosso.

Quanto a preconceitos, eu digo logo que sou preconceituosa! Porque é verdade! Temos todos uma ideia pré-concebida de outros povos ou raças ou orientações sexuais e eu não sou diferente. Por exemplo, eu digo "preto" entre brancos sem maldade, mas não evito a palavra quando estou com um e o mesmo para a palavra "maricas", embora não a use com maldade e tenha de facto montes de amigos gay (para grande tristeza minha porque é um desperdício, mas gosto deles).

Mas sou curiosa e tento descolar do preconceito. A China tem mais que muitos defeitos e tem outras coisas que são simplesmente especificidade cultural (o que acho que foi o caso dos dentes da menina). Perfeito nunca ninguém é e eu muito menos, mas a falar é que o pessoal se entende. E no blogue do Ludwig fala-se muito. Conhecendo os outros é que se fica a gostar e respeitar, pelo que fizeste o teu papel. Mas um preconceito pode ser difícil de quebrar... de um e de outro lado, porque os chineses também não são santos! Eu sei porque convivi com alguns a dada altura! Dito isto, são tão santos como os outros!

Abobrinha disse...

Joaquim

Gostei desse post. Destaco só uma coisa que resume esse e o meu post "estes comentadores, pagos para falarem sobre tudo quando pouco percebem sobre nada": o rigor que se exige aos outros não aplicam a eles mesmos, porque muitas vezes a actividade de comentador não exige mais que uma língua afiada. Exigiria rigor e estudo aprofundado, mas preferem ficar na caminha.

Por exemplo, não viram possivelmente o que era um objectivo exequível e um bom resultado (comparando as melhores marcas de alguns atletas com as que efectivamente obtiveram). E a realidade é que tivemos marcas fracas em relação ao costume, outras melhores e uns quantos de "quase" de pessoal que deu cartas em outras competições, o que de facto foi algum azar. O desgraçado do Gustavo Lima, por exemplo, que anda sempre por perto mas nunca chega mesmo mesmo lá... país de marinheiros e só ele é que nos tenta representar nesse campo!

E o objectivo era mesmo só medalhas? Destacou-se o positivo, como um electricista que quebrou o record nacional de marcha? Mas isso não interessa, ou só interessa porque já se estava em maré ganhadora com o Nelson Évora de medalha ao peito.

Por tudo isso o Vicente Moura se deve afastar: não preparou nem atletas nem povo. Tendo tido mérito, é capaz de ser hora de se afastar e dar lugar a quem vá mais longe. Afinal, saber afastar-te também tem mérito!

Xiquinho disse...

Dear Aboborinha,

Longe de mim pensar que os chineses são santos, aliás o único santo que conheço sou eu… Tem coisas boas e coisas más e a minha posição é muito simples: devemos aproveitar as críticas para o que é realmente importante e ignorar o acessório.

Quanto à notícia não creio ser a comparação com o Deco o mais importante. Até porque para se ser português é preciso mais do que ter nascido em Portugal.(onde é que será que eu já ouvi isto? não me lembro mas acho que fica bem aqui...)

O que acho que é de destacar é o facto de terem feito uma referência a Portugal com base numa coisa positiva. Imagina que eles têm pegado na história da caminha e publicavam algo no género: “Será do interesse nacional de Portugal ficar conhecido como a república dos morons que de manhã, na caminha, com as perninhas esticadinhas, é que é bom?” No mínimo, seria de uma enorme deselegância…

Em vez disso preferiram estar calados e só abriram a boca quando tiveram algo de positivo para dizer. É por isso que discordei do post do Ludwig e só posso tirar o chapéu à notícia dos chineses.

Infelizmente, nem toda a gente concorda comigo… hoje em dia parece que dizer as verdades é sinónimo ter visões estreitas…