segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Do que é normal

Quem me conhece (tipo, quem me conhece a sério, não quem pensa que me conhece) sabe que não sou bairrista. Isto é um aviso para o que vem a seguir, que é para saberem o que NÃO pensar.

Li hoje uma reportagem no Público sobre os anti-Natal e comecei a ler por curiosidade. É uma reportagem ao estilo de tantas outras: entrevistam-se 3 pessoas, cita-se a opinião destes e "prontos", está uma reportagem feita (e 2 páginas de jornal vendidas, quick and easy). O que me chamou a atenção não foi tanto isto como o facto de dois estarem identificados pelo nome e pela origem: são naturais do Porto, a viver em Lisboa há x anos. Da origem do terceiro entrevistado não se diz nada...

Ora quando não se diz nada de alguém é porque é "um dos nossos". Ou seja, um jornal nacional considera "um dos nossos" um que mora ou trabalha em Lisboa mas não um que vem do "Norte". Eu sei que Lisboa e arrebaldes são o maior mercado do país, mas ouvi dizer que também se vende jornais no resto do território continental. Arriscaria dizer que se lê também jornais nas ilhas, mas aí já não juro porque é muito longe e a pessoa nunca sabe se eles moram em cavernas e usam mocas para arranjar esposa ou usam telemóveis e computadores "como nós"!

Não gosto deste centralismo e acho que dá mau resultado. Sendo que neste caso dá só uma leve irritação, mas quando se trata de decisões políticas pode ser extremamente grave. Porque se tomam para "os nossos"... sendo que "os nossos" são o mercado de 2 milhões e tal, extremamente concentrado e com elevado poder de compra. Odeio do mesmo modo o bairrismo e isolacionismo, mas para o caso não é relevante.

Não me levem a mal: sou muito cosmopolita, adoro Lisboa, as pessoas (não "as gentes", que é uma expressão que me irrita porque um bocado campónia) que vivem e trabalham em Lisboa e o bulício que lhe é próprio. Mas há mais país para além de Lisboa e Porto. E é nestas pequenas coisas que se vê a maneira de pensar de muito boa gente. Inclusive de quem molda a opinião pública... e de quem manda!

Para quem ficou a pensar que eu tenho uma molécula de bairrismo no corpo, é favor reler o primeiro parágrafo. Para quem pensa que eu tenho preconceitos contra a Madeira e Açores, declaro solenemente que adoro o que conheço de um e outro arquipélago (que não é suficiente, só porque é longe, mas tenho montes de amigos de um e do outro lado).

16 comentários:

ablogando disse...

Ah!Ginja!
Amaaanda-lhes!

NI disse...

Subscrevo, na íntegra.

Carol disse...

Assino por baixo, de lado, por cima...

Paulo Lontro disse...

Também assino !!!

L!NGU@$ disse...

Já se sabe que, neste nosso Portugal, Lisboa é tudo. Faz isso a comunicação social e faz isso o poder político. É tudo para Lisboa e arredores. Lisboa não produz tanto como outras regiões do país, mas é em Lisboa que se gasta mais o dinheiro ganho pelo povo.

Que se pode fazer?

Cor do Sol disse...

É isso e as informações de transito...Só se anda de carro em Lisboa e Porto.lol.

Bruno Fehr disse...

"Porque se tomam para "os nossos"... sendo que "os nossos" são o mercado de 2 milhões e tal, extremamente concentrado e com elevado poder de compra."

Virtual minha cara, está mais do que provado e é mais do que sabido que no Norte há mais dinheiro.


Além de no norte haver mais dinheiro as pessoas são mais genuínas. Basta para isso alguém do centro como eu perder-me em Lisboa e nunca mais ninguém de encontra e perder-me no Porto onde por mais do que uma vez as pessoas se desviam do seu caminho para me ir levar ao destino!

Uma vez perdi-me em Lisboa, procurava o Paradise Garage pois ia a um concerto, parei num MacDonalds e pedi informações e que saia de lá. Lisboetas arrogantes sem resposta. O ultimo um tripeiro caralho, disse logo "binde atrás de mim, quando eu fizer pisca tu biras pá lá".

Ele fez a indicação, eu "birei" e lá estava eu, mesmo à porta do meu destino :)

Paulo Lontro disse...

"Virtual minha cara, está mais do que provado e é mais do que sabido que no Norte há mais dinheiro."

Caro Crest@, há alguns anos a tua afirmação seria verdadeira, hoje em dia isso não se passa.
A situação económica do Norte é bastante pior que a média de Portugal.
Toda a economia nortenha era baseada na indústria de mão-de-obra barata e com meios tecnológicos deficientes. Esse tipo de industria não sobreviveu na sua maioria pelo que o norte de Portugal está em profunda crise sendo o desemprego muito maior no norte que no sul.
Eu comercializo em todo o país e a crise já se sente há bem mais tempo no Porto e Norte do que no Sul e especialmente em Lisboa onde só agora se começa a sentir verdadeiramente a crise e o baixo poder de compra.

Abobrinha disse...

L!ngu@$

Essa de gastar em Lisboa o que se ganha no resto do país não concordo: simplesmente estão lá concentrados outro tipo de actividades. Mas aí está: CENTRADO! E vê-se em pequeninas coisas como esta niquice: "eles" e "nós", sendo que EU não sou um de "nós" mas uma do "Porto" (o que nem é bem verdade) ou no geral "do norte".

Eu não tenho NADA contra Lisboa ser maior... mesmo porque Lisboa é maior! É grande, é linda e eu não me importava de lá morar. Mas o resto do país também existe e gera riqueza. O que é estranho é que é capaz de ser uma crise financeira a mostrar o que é que significa "criar riqueza".

Abobrinha disse...

Cor do Sol

O problema não é o trânsito ser só em Lisboa e Porto: o problema é que no Porto (não sei em relação a Lisboa) a informação está pré-gravada e diz que há fila em Bessa Leite, na Arrábida, aqui e acolá... mas não dá para saber a dimensão da fila. O problema é quando há um acidente e a informação nunca por nunca está actualizada! Por isso... bem que podiam passar música nesse tempo.

Abobrinha disse...

Crest

EU não vou ao ponto de dizer que os nortenhos são mais autênticos. Temos também defeitos muito característicos e que me desagradam muito. Como o facto de os machos nortenhos serem regra geral muito retrógrados. Dito isto, se uma gaja quer um gajo em condições, tem que o procurar. Seja no Porto, em Lisboa, no resto do território continental, ilhas ou mesmo no estrangeiro. Mas é uma tendência que me desagrada.

Agora em relação a disponibilidade, é verdade: em Lisboa dá a sensação que o tempo é regateado e só te dão um bocadinho. O resto está já espartilhado entre uma série de outras coisas. Então se és um estranho e/ou tens o sotaque "errado", podes mesmo ter reacções menos boas (sendo que o sotaque pode desencadear também más reacções deste lado, o que me aborrece).

Abobrinha disse...

Crest e Paulo

O que vocês dizem em relação ao dinheiro do Norte é verdade, mentira e vice-versa. O que se passa é que parte da indústria foi com o c**** e outra reconverteu-se. Mas a que se reconverteu não gera tantos postos de trabalho.

Mas o país inteiro tem que resolver isso. Não pode ser "Lisboa" a criticar os empresários dos Ferrari (confesso que esse argumento nunca compreendi) enquanto roubam que nem gente grande em esquemas financeiros e/ou passeiam em outras máquinas de outras cilindradas fornecidas pelo estado ou instituições semelhantes e se abotoam forte e feio com dinheiro público.

Volto a dar ênfase ao "o país inteiro tem que resolver isto". E a recordar que o país inteiro é TODO o continente + ilhas.

Abobrinha disse...

Aos que assinaram por baixo... sinceramente preferia não ter razão e que vocês se tivessem atirado a mim a dizer que eu andava a sonhar com ladrões.

Eu Mesma! disse...

Bem... arriscando-me a ser chachinada... eu sou Lisboeta...

e confesso que sim... nós os lisboetas temos hábito de dizer... É tudo para Lisboa e arredores.:)

é a nossa claim em todas as frases que dizemos!!!!

Mas agora fora de brincadeiras...
sim... somos pessoas desconfiadas por natureza... e existe uma razão lógica de ser...

crime e assaltos em Lisboa existem há já demasiados anos... e quem cá nasceu habitou-se a conviver com isso...
quem é do centro e mesmo do norte pode-se orgulhar, possivelmente, de ter passado a infância toda a deixar a porta de casa destrancada....

alguém estar a perguntar onde fica o Paradise Garage à noite??? Nós não somos simpáticos para desconhecidos... somos talvez meio arrogantes sim mas... é uma forma de protecção que está conosco desde há muito...

se isso nos torna antipáticos e estupidos... que sejamos... pelo menos não da-mos confiança a desconhecidos...

:)

(sim... agora vou ser chachinada viva!)

Eu Mesma! disse...

e um aparte...
quem fala mal de Lisboa não conhece a cidade...

a cidade fora da confusão do trânsito e do dia-a-dia da rotina...

Lisboa tem uma luz invejável... é preciso conhecer os locais eleitos para observar essa luz...

A Graça ao fim do dia, no por do sol... é um dos locais mais bonitos de Lisboa... um excelente anti-depressivo e um local lindo para "adquirirmos" a capacidade de respirar sozinhos!

Paulo Lontro disse...

Abobri, durante 40 anos o meu pai esteve ligado às confecções no triangulo Guimarães, Braga, Famalicão. Há muitos anos ele falava da crise da 3ª geração (essa mesmo, a do Ferrari).
A 1ª, neste caso a dos avós, abriram os fabricas de confecções e tecelagem numa época onde a mão-de-obra barata conseguiu impor-se sendo muito fácil vender para o estrangeiro.
Estas famílias ganharam prestígio e riqueza que foi passada com as respectivas fábricas aos filhos.
Estes filhos, 2ª geração, nascidos nos anos 40 pegaram nas fábricas e continuaram os nomes e a produção tendo esta ganho grande força e muito dinheiro nos anos 70.
Não tinham grandes estudos mas tinham o conhecimento do mercado e muita mão-de-obra disponível. Nessa época tinham mesmo muito dinheiro.
A 3ª geração, a dos nascidos nos anos 60, é a famosa geração Ferrari, uma parte destes elementos fez estudos diversos dos pais, nada ligados às empresa familiares nunca se ligando às empresas dos país e dos avós, viviam de rendimentos e da fortuna.
Esta geração dedicava-se aos carros e às corridas. Se se lembrarem, a grande parte dos pilotos destes país nos momentos áureos do Rally de Portugal e das corridas de Vila do Conde eram exactamente pessoas ligadas às confecções da zona de Braga.
A geração Ferrari, com o envelhecimento dos pais e com a falta de conhecimento que tinham do sector, quando as empresa devido ao aumento do custo da mão-de-obra e o aparecimento de países mais favoráveis a estas industrias de mão-de-obra intensiva e ainda com o aumento de produção na china, tentavam salvar o “ganha pão” cometiam erros de palmatória fazendo as empresa falirem sem no entanto deixarem de ser ricos ou de mostrar sinais exteriores de riqueza sendo que a riqueza era de facto mais exterior do que riqueza verdadeira, daí que a população do norte tenha empobrecido mais do que a do sul, quer devido ao empobrecimento destas fortunas quer devido ao desemprego que se criou devido às falências.