domingo, 4 de maio de 2008

Dei uma rapidinha a Lisboa - parte 3

A primeira parte da viagem foi fácil porque as opções eram muitas e variadas: ou ia do Oriente à Alameda ou do Oriente à Alameda. Escolhi ir do Oriente à Alameda, o que me pareceu uma opção acertada.

Lá chegada a opção recaiu sobre a direção do rio e de um nome conhecido: Baixa-Chiado. Compras são sempre apelativas! Pensava eu, mas não foi bem assim. E precisava de um café. A brasileira seria um sítio decente para um café, mas dada a multidão desisti. Há algo de profundamente errado em ter tanta gente na rua às 10 e tal da madrugada!

Curiosamente, os únicos portugueses que lá tinha eram uns que estavam a vender um ramo de espigas de trigo e um movimento que estava a tentar sacar a minha assinatura para formar um novo partido político. E eu com pouca paciência para os aturar. O que me fez lembrar uma cena há uns anos, em que saí com os meus pais e uma "funcionária pública" (não sei o que era, podia ser limpadora de retretes) estava a tentar angariar assinaturas para se candidatar a Presidente da República.

Como cidadãos tentamos obter informações acerca do posicionamento da criatura em relação a um par de temas. A posição era qualquer coisa como "o que é importante é dar-se com todos". Mas quem eram todos? Quando lhe perguntamos se "todos" era mais este ou aquele político ela foi vaga. Quando chegou a vez do Putin a senhora olhou para nós com incredulidade. Quem era o Putin? Suponho que não será preciso dizer-lhes que não houve assinatura para ninguém!

Já agora, alguém me sabe explicar porque diabo devia eu ter comprado um raminho de espigas de trigo?

Ainda pensei que deveria ver um sindicalista por outro (era 1 de Maio!), mas não vi nada! O máximo que vi foi ao fim do dia um com um boné do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas e com os joelhos todos lixados, possivelmente de uma grande caminhada. Vai mal o sindicalismo em Portugal!

Sem cafeína o meu cérebro começou a fraquejar: para onde iria eu? Fiquei meia perdida, porque raras vezes me vi em Lisboa completamente sozinha, sem primos tios ou amigos para me orientar e fui parar à rua Augusta, onde se deu a parte 1 de duas do drama "até para ser cão é preciso ter sorte".

Sucede que estava eu meia perdida no meio de uma mole de gente anónima quando um cãozinho me dirigiu um sorriso (de cão) enorme e se precipitou para mim como se fôssemos grandes amigos desde há muito. Só a trela o impediu, claro! Era lindo, castanho cor de mel, pêlo curto e bem tratado (acho que não era labrador: era muito esguio) e claramente novinho. Os olhinhos dele pareciam os de uma criança e tinham a alegria de uma criança. Como a que um dia destes no Porto, ao colo de alguém que atravessava a rua no sentido oposto a mim apontou para mim e se riu como que a dizer-me que queria brincar comigo. Como eu não só não tinha trela como excesso de liberdade de movimentos e estava a precisar de um amigo, abri um sorriso ao cãozinho e dirigi-me a ele para lhe fazer uma festa.

Não me apercebi imediatamente porque é que o bicho estava a ser puxado e ele ainda conseguiu meter as patas às minhas pernas e eu consegui fazer-lhe uma festinha. Pensei que o dono tinha pensado que eu não queria fazer festinhas ao bicho ou que me incomodaria que ele saltasse para cima de mim, o que objectivament era uma parvoíce porque eu tinha-me dirigido ao animal. Mas as dúvidas ficaram desfeitas quando às inteções do dono quando ele se debruçou sobre o bicho para o afastar de mim. Nem para mim olhou e estava visivelmente aborrecido.

Quando um animal destes (o de 2 patas) tão ostensivamente me rejeitou um carinho de um animal racional (o de 4 patas), fiz a única coisa que podia: caminhei no sentido em que ia em primeiro lugar, pela rua Augusta abaixo. Olhei para trás 2 ou 3 vezes, umas das quais porque o animal (de 4 patas) ganiu porque o de 2 patas lhe tinha batido. O de 2 patas continuou debruçado sobre ele um monte de tempo. Não sei se o animal de 2 patas era assediável (para falar verdade, só reparei que era mais ou menos tão alto como eu e branco), mas com esse tipo de atitude nem valia a pena. Até para ser cão é preciso ter sorte!

Mais abaixo a parte 2 do mesmo drama: um cigano tocava acordeão com um cãzinho bebé com uma lata pendurada nos dentes. Não era o mesmo que tinha tentado sacar-me dinheiro no metro com o cão empoleirado no acordeão. Mas o que acontecerá aos cães quando forem grandes demais para empoleirar no acordeão? Na volta é melhor nem pensar!

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