Vi duas exposições (do Robert Raushenberg e da Lúcia Nogueira) em 13:42:02 minutos (1). E isto porque o Museu é grande de carago, porque um olhar rápido chegava para cada peça (ou para a exposição toda!). Ir sozinha encurtou grandemente a visita porque eu tenho sempre receio que o facto de me rir desbragadamente, fazer caretas e dizer mal da arte sejam passaportes para uma estadia 5 estrelas no Magalhães Lemos (para quem mora a sul do Mondego e seja freguês desta choça, é o hospital psiquiátrico do Porto). Não é por mais nada: é porque há mais malucos que eu, por isso estou a manter aquilo o mais desimpedido possível.
Contrariamente ao que profetizou o preclaro Com Tranquilidade (2) (passageiro frequente deste estabelecimento, embora há muito que não comente aqui), o auto-rádio do Mini do Jorge Fiel, que tem a minha idade (o Mini, não o Jorge Fiel) não estava lá! Não significa que não vá lá parar: deve estar a esta hora a ser colado com cartões, panos de seda enormes, cordas, imerso em banheiras e com almofadas a fazerem coisas sinistras a portas.
Parte da causa para a visita ser tão curta também se deve ao irritante ruído de saltos de botas femininas a martelar no soalho do Museu. Que os saltos e as botas fossem ambos meus não é um pormenor sem importância: pelo contrário, ainda irritava mais (se isso é possível), porque eu posso dissociar-me dos meus pensamentos ou do que me rodeia, mas dos meus pés só com um castigo à Taliban. E algo me diz que uma prótese para os pés era capaz de fazer mais barulho que os saltos dos sapatos. E ser qualquer coisinha mais incómoda.
O objectivo da visita a Serralves também não era a exposição: cartão usado, vidro partido e lixo tenho eu em casa de sobra. E não lhe chamo arte mas azelhice, falta de tempo e pachorra para arrumar, um potencial uso ou matéria-prima para reciclagem. O verdadeiro objectivo da visita, programada já na sexta-feira à noite era rumar a um dos meus sítios preferidos no mundo para recuperar de uma semana tão escura e de uma melancolia que ameaçava instalar-se. Não sabia eu que o S. Pedro ia brindar-me com um fim de semana com um tempo tão glorioso: céu azul e montes de luz! Um dia digno de Lisboa! A melancolia permaneceu, mas eu sei exactamente a que se deve e não é para aqui chamado.
Fui munida da revista do Expresso desta semana . Na Actual tem um artigo sobre a Simone de Beauvoir, mas não menciona o rabo da Simone de Beauvoir do mesmo modo que este estabelecimento. O que só demonstra que o Expresso tem padrões de qualidade e este estaminé não! Ou seja, nada que já não soubéssemos.
Curiosamente, numa das "curtas" dizia que a Sharon Stone queria experimentar mulheres porque os homens agem como mulheres e as mulheres como homens, pelo que ela queria experimentar masculinidade a sério. Fiquei na dúvida: mando o meu currículo ou não? Ora opinem (e javardem!)!
Um outro artigo mais interessante dava conta de cafés de Lisboa tipo tertúlia com muito bom aspecto. Deu-me vontade de rumar para esses lados. Para quem já aí está, fica a lista:
- Noobai Café (Miradouro de Santa Catarina), aberto das 12 às 24 h
- Associação Loucos e Sonhadores (Rua Luísa Todi, ao Bairro Alto), aberto das 22 às 04 h
- Café Royale (Largo Rafael Bordalo Pinheiro, ao Chiado), aberto das 10 às 24 h
- Les Mauvais Garçons (Travessa dos Fiéis de Deus, ao Bairro Alto), aberto das 19 às 02 h
- Pois, Café (Rua São João da Praça, à Sé), aberto das 11 às 20 h
Se puderem aproveitem e guardem-me um lugarzinho. Eu quando puder dou aí uma volta. Mas aqui também se está bem e tem muito que ver (com mais ou menos luz).
Numa ironia suprema, outro artigo na revista era sobre a Joana Vasconcelos. Eu, cuja dúvida maior em relação a arte contemporãnea reside na quantidade de decibeis a emitir ao rir-me da maioria das peças, sou maluca pela maluca da Joana Vasconcelos. Ao ponto de conseguir identificar peças dela antes de ler de quem são. Acho-a o máximo e não sei dizer porquê. É possivel que simplesmente sentir que gosto sem ter que estar a questionar e problematizar é o melhor elogio que posso fazer à obra da moça.
Deixo-vos esta parte da minha visita a Serralves com uma das vistas mais extraordinárias. Não pela beleza em si, mas pela ideia de que há um pulmão e um espaço de ruralidade no centro da cidade: neste ponto vê-se o campo e ouve-se o chilrear dos passarinhos e ao mesmo tempo vê-se a cidade e ouve-se vagamente o ruído dos carros que a caracterizam. Como este sítio é quase no fundo do parque, já se passou por muito jardim e muita mata, o que dá a ilusão de que poderíamos continuar para sempre em contacto com a natureza. Mas não é verdade: a cidade está mesmo ali ao pé, mais perto do que na realidade parecia, o que também é uma metáfora extraordinária para muita coisa na vida (ou não, mas apeteu-me ser filosófica).
Como disse, esta visita ainda vai inspirar pelo menos mais dois posts. Um será lamechas e o outro javardo. Mas isso será quando me der na telha! Não antes e não depois.
Fiquem bem.
(1) O tempo poderá ser uma invenção minha, mas não está muito longe da realidade
(2) Comentário de 20 de Janeiro de 2008 às 02:02
7 comentários:
Abobrinha,
Já disse por outras palavras o que agora repito:
Já comprei alguns livro, já li alguns autores...
Seja a pagar seja à borla (como aqui) já não me lembro de ler com tanto prazer (tirando os clássicos catalogados em "alguns que já li", e mesmo assim...) uma pessoa que escrevesse tão bem como você.
Quando por vezes lhe digo que tenho "inveja", digo-o sinceramente; se eu tivesse essa facilidade...
Os meus sinceros cumprimentos e parabéns. Valeu o seu esforço para chegar a este nível. Digo-o convicto de que isso não é só fruto da sua natural inspiração mas, sobretudo, de muito trabalho.
Oh Abobra da horta! Mas porque é que os teus posts tem sempre de ser taaaaaaaao grandes???
Allanah
É para se ver melhooooooooooooooooooooor!
És um bocadinho injusta: também tenho rapidinhas. Mas não muitas vezes. Além de que estou um bocadinho em baixo (o que é parvo, dado o bom tempo, mas eu sei a que se deve), por isso precisava mesmo era de uma massagenzinha no ego.
Já agora, o teu vídeo estava giro (e a música bestial, Allanah style), mas não pensei que fizesse parte do teu conteúdo funcional fazer vídeos. Afinal, isso é mais a atribuição de decora... digo, desigers e pessoal das artes. Dito isto, és um perigo (no bom sentido) com a máquina fotográfica! Olha que (não sei se já te disse) tenho um amigo que com essa brincadeira agora ganha a vida a fotógrafo, com uma formação académica que não está sequer relacionada (e que mandou completamente para as malvas).
Boa, isso da-me uma ceta vontade de enveredar pela fotografia. O video, era obrigatorio na apresentação do trabalho, e como os meus colegas de grupo nao fizeram a ponta de um corno eu tive de fazer tudo sozinha, incluindo o video.. olha, a versatilidade é importante hoje em dia, começo eu a ver!
Com Tranquilidade
Estou a ver que era só preciso chamar! Além de tudo, nem precisei de dizer que precisava de um elogio: o preclaro adivinhou logo!
Ainda bem que gosta do que escrevo: a mim regra geral dá-me prazer escrever e ter retorno de quem me lê.
Não sei se fiz um esforço consciente para desenvolver um estilo de escrita. Mas tentei sempre transmitir claramente o que penso. Hoje dou por mim a pensar: tenho que fazer um post acerca disto. Pelo prazer de arrumar ideias e de partilhar o que penso com quem me lê.
De novo, obrigada pela sua visita e pelas suas palavras simpáticas.
"os meus colegas de grupo nao fizeram a ponta de um corno eu tive de fazer tudo sozinha"
Adoro trabalhos de grupo! Tive grandes dissabores por causa de um trabalho (supostamente) de grupo. Veio ao de cima toda a falsidade e comodismo de supostas amigas minhas. Mas não foi como nas histórias de fadas e cinderelas: quem se lixou pela medida grande fui eu! E eu era das únicas inocentes na história.
Mas eu hoje, de facto, estou muito sensível!
Filha, podes não chegar a fazer fotografia como ocupação a tempo inteiro (como podes chegar a conseguir fazê-lo), mas pelo menos não te afastes.
O meu amigo disse-me a dada altura que onde ganhava mais dinheiro era em fotografia de moda. E há um tempo vi-o... numa das páginas interiores da Cosmopolitan!
Abobrinha,
Eu também gosto de Serralves.
Num dia glorioso, um passeio pelos Jardins de Serralves, que não pelas exposições, faz-nos pensar que vale a pena viver e que o mundo pode ser bonito.
Enfim, espero que recupere rápido desse momento mais negro e que, perdoe o egoismo, volte rápidamente a partilhar os seus deliciosos comentários.
O CT têm razão. Já pensou em escrever um livro?
http://zumzummatamoscas.blogspot.com/
Enviar um comentário