Eu volto a perguntar: Será este o verdadeiro rabo de Simone de Beauvoir?
Que disparate: este é o rabo da playmate do mês! Não é um rabo qualquer: tem uma identidade, tem um rosto associado (e mais umas coisas, e não sei se foi tratado em fotoshop).
E este? Será este o verdadeiro rabo de Simone de Beauvoir?
Qual deles? Alguns não têm uma identidade associada! Podem perfeitamente ser da Simone de Beauvoir!
Então e... Será este o verdadeiro rabo de Simone de Beauvoir?
O título recordou-me um outro (será este o verdadeiro rosto de Jesus Cristo?) que li há anos (nem sei se em inglês se em português e muito menos onde). Uns mongos tinham decidido escavar uma sepultura de um judeu do século I e encontraram lá dentro (supresa!) um judeu! Morto, o que foi uma surpresa ainda maior.
Vai daí continuaram na mesma linha de lógica e pensaram: os judeus são todos iguais (qualquer um sabe isso!); Jesus Cristo era judeu; este judeu era a cara chapada do Jesus Cristo. QED. Assim de repente e se me removerem 90% do cérebro, faz sentido e aceito tudo isto de bom grado!
E o que é que a cara do Cristo tem que ver com o cú da Simone? Bem, como todas as lógicas da Abobrinha, algo de muito estranho e retorcido!
Noticiou hoje o Público no caderno P2 que a Simone de Beauvoir faria 100 anos se fosse viva. A revista Nouvel Observateur celebrou o acontecimento com uma foto muito peculiar: a de uma mulher completamente nua, de saltos altos, com os braços erquidos a ajeitar o cabelo, de costas. E diz que aquele é o verdadeiro rabo da Simone Beauvoir. Feliz ou infelizmente, mais neurónio ou menos, não perdi 90% do meu cérebro. Mas desta vez nem é a veracidade da foto a única coisa em causa.
Antes de mais, um rabo é um rabo. Se não está associado a um rosto não passa disso mesmo. Por firme que possa parecer... é só um rabo. Mas se fosse "só" um rabo, as pessoas não o esconderiam para só o mostrar a quem entendessem. Penso eu de que.
Um rabo, fora o aspecto perfeitamente óbvio de servir para se sentar e servir de suporte e ajudar de algum modo a proceder a outros actos menos nobres mas essenciais à sobrevivência humana (cagar, por exemplo) é algo de muito íntimo na nossa sociedade. A nudez a mesma coisa, como um segredo que se quer secreto. O voyerismo da sociedade leva-nos a querer entrar na esfera íntima dos outros, precisamente por ser proibido, o que o torna interessante. O exibicionismo de muitos desinteressantes é possivelmente o desejo de se colar a quem é de facto interessante, fazendo da sua vida um desenrolar de intimismos (fingidos ou não).
Aqui é o ponto onde eu confesso não ser competente para comentar Simone Beauvoir. Mas estranhamente sinto-me em condições de opinar sobre o seu rabo. Não sei se o rabo do Nouvel Observateur é o da Simone Beauvoir (mas quase que juro que o judeu que referi não é a cara chapada do Cristo, baseado em estatística pura e simples), nem isso interessa para o caso.
Objectivamente, a fotografia mostra uma mulher elegante (de idade indeterminada), branca, cabelo comprido escuro (ou com uma peruca com essas características)... que pode ser qualquer uma. Não se vê o rosto! As palavras leva-as o vento, e disse uma criatura que aquele era o verdadeiro rabo de Simone Beauvoir. O que... não é possivelmente motivo para o publicar!
A críticas de machismo e instrumentalização da imagem da mulher, diz o Público que "Os responsáveis do Nouvel Obs responderam que Beauvoir sempre chocara e provocara, que o título de capa era justamente A escandalosa, logo a foto de nu encarnava a ideia de uma mulher liberta, de corpo e ideias". Até pode ser verdade, a Simone até podia ter gostado... mas ela não disse isso, pois não? Assim, escrito na pedra! Onde está a foto do Sartre nos mesmos preparos? Bem me parecia! Mais importante que isso: onde está a foto que sabemos objectivamente que Simone ou Sartre não se importariam de ver publicados e que os mostra expostos de uma forma que desafia as convenções? Parte são os livros (instantâneos deles mesmos, que expoem as suas ideias). Mas... é tudo!
Tudo isto para dizer muita coisa e não dizer o resto. No fundo, é repisar a ideia que não somos coisa pública, mas temos a nossa vida privada e íntima. O direito à imagem. O direito à reserva. O direito às nossas máscaras, sem que nos venham invadir. Fotografar nuas enquanto estamos de costas para depois mostrar a imagem sem ao menos pedir.
É esse o motivo porque não coloquei aqui a foto do alegado rabo da Simone de Beauvoir: não vou ser cúmplice da quebra da sua intimidade ou da intimidade da senhora a quem pertence o rabo na foto que o Nouvel Observateur publicou. Um rabo é só um rabo, mas é só isso e muito mais. É também uma identidade.
E por uma vez sem exemplo a Abobrinha ensinou uma coisa de jeito: marketing. Mmmm... pensando bem, é possível que algumas pessoas fiquem desiludidas com o fim das imagens e se tenham apercebido de que terão sido enganadas.
Repito então: Será este o verdadeiro rabo de Simone de Beauvoir? Bem, este ao menos é de guerra!
Sem comentários:
Enviar um comentário