A quem não entendeu, isto não faz parte da saga "baratas, carraças e bananas" (que está à espera de mais inspiração, que de momento me foge). Para falar verdade, não tem nada que ver com nada disso: é um post exclusivamente urbano. Já agora, aviso que poderá ser um bocado seca, por isso quem está à procura de figuras e badalhoquices bem pode desligar (bem, vai ter uma badalhoquice).
Ontem fui dar uma das minhas voltas sem destino nem percurso ao Porto. Não vi o Pedro Abrunhosa no Majestic, mas desta vez se ele fosse de óculos de sol veria qualquer coisa: é que estava um dia de sol lindíssimo: uma luz linda, que faz adivinhar a Primavera. Inevitavelmente andavam casalinhos de mão dada e um ar lamentavelmente apaixonado. Ou seja, são animais de sangue frio, como as cobras e as lagartichas: saem para a rua com o calorzinho.
Também fui à livraria Lello, que recomendo a toda a gente. Lembrei-me de um cientista honesto, o Luís, porque escreveu este post (e muitos outros). Lamentavelmente tinha a máquina fotográfica no carro, por isso não tirei uma única fotografia.
A dada altura fui desaguar ao Piolho, aka Âncora de Ouro, que eu conhecia de gingeira dos meus tempos de Faculdade.
Entrei e fiz o que sempre fazia (já sem pensar) quando entrava lá: olhei para todos os lados a ver se encontrava alguém conhecido. Só que isso foi há mais de 10 anos, por isso não havia ninguém lá conhecido.
Sentei-me na mesma e comecei a recordar e a observar. O café está diferente: está maior, porque a parede que o separava da parte onde se faziam refeições foi deitada abaixo. Não se pode fumar lá dentro, o que tem como consequência um ar respirável e o chão a já não parecer o "cinzeiro grande", onde eram sepultadas as beatas e pedaços de cinza que caíam de estudantes boémios e outras companhias (lá iremos). As casas de banho também passaram a ser melhores um pedaço. Aliás, passaram a ser mesmo bastante boas! E tem televisão: dois ecrãs XPTO, o que era mais ou menos escusado porque o atractivo do Piolho não são os bonecos a duas mas a três dimensões e com alma que por lá param.
Está igual nos espelhos que o forram, nas colunas com acabamento dourado, nas lamentáveis placas (coisa tão kitsh!) de cursos vários ao longo do tempo e ainda no mais importante: as mesas corridas.
Quando alguém chegava muito cedo (chegou a ser o meu caso, por horários de aulas desencontrados dos do autocarro) abancava em qualquer lado. Depois disso entrava um, entrava outro e outro e outro. Depois saía um, saía outro, depois entrava e por aí adiante. Um sistema dinâmico, em que se conhecia amigos de amigos de amigos de amigos de conhecidos. Para mim um rosto conhecido era o suficiente para abancar. Meio conhecido também.
Foi no Piolho que me viciei em café. Sim, eu viciei-me em café aos 18 anos, ou seja, depois de velha. O mais curioso é que não fui eu que comecei a ir para lá: as chocas das minhas coleguinhas é que na altura emburraram para lá porque "era mais académico" (ainda hoje não entendo bem o que é que isso quer dizer). Eu achava o café sujo (e era!) e ruidoso. A última parte acabei por apreciar; a primeira aprendi a ignorar.
(continua)
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2 comentários:
Mas ficaram saudades dos tempos do Piolho com o pessoal?
Herr Krippmeister
Ainda há pouco estava a conversar com um amigo acerca disto. O tempo de Faculdade é bom pela quantidade e qualidade de povo a que se está exposto.
Sendo eu um animal gregário, claro que tenho saudades desse tempo. Não é bem do tempo de estudante: é do ter tempo.
Tenho ainda saudades do tempo em que não havia necessidade de jogar à defesa profissionalmente (sentimental e pessoalmente a coisa é mais ou menos idêntica). Isto porque não pertencia a um curso particularmente competitivo (com o bem e o mal que isso envolveu).
Não tenho saudades de estudar por si (tenho sempre que estudar, e agora até ganhei tempo, maturidade e distância para saber outras coisas). Mas as pessoas fazem-me verdadeiramente falta. Pela qualidade e pela diversidade que encontrava aí.
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