terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Eu, parolinha

Eu tenho uma confissão a fazer: eu comprei o livro "Eu, Carolina". Eu justifico: além de um quê de badalhoca (no bom sentido), também tenho qualquer coisa de parola! Confesso que "Eu, Carolina" foi dos melhores livros que já li: ri-me que nem uma louca com a história e com a parolice da história e da maneira de escrever da autora. Já vi redações da 4º classe com mais nível (as minhas, por exemplo)! Para além de tudo, o livro lia-se rapidinho. E gaja que é gaja aprecia uma rapidinha de vez em quando!

Quando os "Gato Fedorendo" leram excertos do livro no programa eu pensei que eles eram uns exagerados e que não se fazia, gozar assim com uma pessoa: não acreditei que alguém fosse capaz de escrever coisas daquelas a sério! Pelos vistos também sou um bocadinho inocente!


Outro exemplo de parolice (fora a "família real", que é regra geral imbatível) foi uma criatura que disse qualquer coisa como: "gosto da sensação de ter uma coisa a mexer dentro de mim". As vossas mentes porcas a esta hora estão a pensar em tudo menos no contexto em que esta barbaridade foi dita. Quem disse isto foi... Diana Pereira, modelo grávida de Tiago Monteiro. Digo eu que não é preciso estar grávida para... bom, não interessa! Adiante!

Neste momento se houvesse um prémio para o maior parolo de todos os tempos, o prémio era capaz de ir para um grande português, já repetente nestas andanças. Foi até considerado o maior português de todos os tempos: o Prof. Doutor António de Oliveira Salazar!!! Na impossibilidade de o traste receber o prémio, estava capaz de o dar à Micas.

Pois este Natal (época de parolice por definição) acho que vou pedir um livro! Concretamente
"Os Meus 35 Anos Com Salazar", de Maria da Conceição Rita, aka Micas. Eis a sinopse (e olhem para a fotografia... que nojo!):

"«Salazar entrou devagar na minha vida, sem eu dar por isso, ainda na minha infância. Quiseram logo a seguir separar as nossas vidas, mas revoltei-me e não deixei. Acompanhei-o assim até ao fim da vida dele.»"

Durante 35 anos, Maria da Conceição Rita privou com António de Oliveira Salazar. Nenhum laço familiar os unia, mas com apenas seis anos, Micas, como Salazar carinhosamente a chamava, foi viver para a residência do «Senhor Doutor», por intermédio da sua familiar (por afinidade) Maria de Jesus Freire, a governanta de Salazar.

Na primeira pessoa, a pupila de Salazar conta-nos os gostos gastronómicos do seu «protector», descreve o seu quotidiano até agora desconhecido, evoca as fábulas que o Presidente do Conselho lhe contava ao adormecer, recorda tanto as lições de tabuada e História como as raras confissões políticas que ele lhe fazia em passeios nocturnos pelos jardins de São Bento, explica a forma como a economia doméstica de São Bento era dirigida."
Li o artigo sobre o livro numa revista cor de rosa quando estava no cabeleireiro e fiquei com os cabelos em pé (não ajudou ao penteado)! Antes de mais por ter lido o que li no sítio onde o li: então agora Salazar é cor de rosa chic? Bem, está no sítio certo, de certo modo!

Fiquei pasma com várias coisas: o que é que a Micas foi fazer para casa do Salazar, se nem da família era. Não diz isso em lado nenhum e eu gostaria de saber. Mas o que acontece numa dada altura, num determinado contexto pode parecer certo. O que me espanta é que ainda hoje a Micas encare isso com naturalidade, quando já tem idade para ter juízo!

Que encare com naturalidade o facto de a governanta criar galinhas no Palácio de São Bento, à revelia do Salazar (afinal, o chefe de um Império!), a bem da economia doméstica também me ultrapassa! O cúmulo da parolice: chega a dizer que se vendiam os pintos e os ovos para um grande hotel, onde um hóspede na época entre as guerras não os dispensava. O nome do hóspede: Calouste Gulbenkian! Oh, santa parolice, rezai por nós que não temos salvação possível! Ao pé disto, Phone-ix como nome de uma rede de telemóveis parece-me francamente de bom gosto!

A Micas é ainda coerente quando explica que Salazar pegou numa vassoura para lhe ensinar como se varria: da esquerda para a direita, de um lado para o outro. Eu ainda ia javardar a dizer que o homem talvez tivesse pensamentos pecaminosos com o cabo da vassoura, mas acho que já chega de porcaria!

Ainda não comprei o livro (devo comprá-lo, por curiosidade), mas tudo isto me revolta o estómago! Aborrece-me sobretudo pensar que o nosso país tenha conseguido aguentar um ditador parolo e mediocre destes tanto tempo! O que é que se passava connosco, porra? Como é que só nos sacudimos daquele regime passado tanto tempo?

De momento estou a ler o livro da Zita Seabra, mas ela não tem uma fluidez de escrita que me prenda (e ando um bocado alvoada) por isso estou a ler devagar. Mas já aprendi umas coisas e compreendo melhor o que já tinha observado na Faculdade: andei sempre com os comunas (porque eram mais divertidos e porque calhou), estranhamente, e sou conotada politicamente tanto com direita como com esquerda, por isso estou um pouco confusa. Ou não: na volta não pertenço mesmo é a nenhum! Mas também tem elementos de parolice, inocência e de uma malvadez meia escondida.

Agora o manifesto do eu, parolinha: como é que eu e a minha geração, os nascidos e/ou criados em ambiente de liberdade não somos melhores e não nos sacudimos mais? Quando afinal até tínhamos obrigação para mais! Ou temos outros grilhões? Será que a única maneira de lutar pela dignidade, pela liberdade, pelo trabalho é ir para manifs ou escrever blogues reaccionários a dizer mal de tudo e de todos? Algo aqui não está bem! Olhando para o passado vê-se o porquê de certas coisas, mas não de todas. E está visto que a minha geração precisa de um paradigma novo. De ver exactamente quais as causas por que quer lutar e como se faz a luta de forma justa e eficaz. E fazer a luta, mais que não seja contra a parolice! Já é uma boa causa!

P.S. Espero que o texto faça sentido, porque foi escrito a prestações.

7 comentários:

Patrícia Grade disse...

Ó parolinha mor,

O mais grave(não sei se grave será a palavra correcta, talvez risível) disto, é que o livro da carolina Salgado foi escrito por um/uma escritor/a fantasma (é o nome dado aos escritores que redigem um livro sem darem o nome). Ou seja, para além de termos hoje em dia toda uma panóplia de livros escritos por quem não tem nada a dizer, ainda temos aqueles que escrevem (mal) por encomenda. É caso para dizer (e agora vou mesmo ser muito parola) "vai lá vai..."

Joaninha disse...

Abobrinha,
A mim ofereceram-me o livro da carolina o ano passado, só que com a confusão perdi-o, ou seja está lá em casa mas não faço ideia aonde e não tenho feito nenhum esforço de especial para o encontrar;)

Abobrinha disse...

Joaninha

Confusão?? Mmmmmmmmmmmm... adoro confusão! Vais-me oferecer o da Micas, é?? ;-)

Quanto ao da Carolina... olha... deixa lá! Não se perdeu grande coisa!

Abobrinha disse...

Indomável

Pior que isso é que a escritora não é um fantasma desconhecido, mas uma professora de português do secundário amiga da Carolina.

Suponho que não tenhas lido o livro, senão entendias exactamente a ironia do nível das redacções da 4º classe! É que vai entre coisas como declarações inflamadas de amor com o nível de canções do João Pedro Pais (e estás a ver que isso para mim não é um elogio) a frases pseudo-pomposas a cheirar a mofo.

O nível da mulher como professora adivinha-se pelo que ela escreveu! Tadinhos dos alunos! Tadinhos de nós!

Uma vantagem a Carolina tem sobre a Micas: foi recauchutada. Uma desvantagem: continua com aspecto de parola! Mesmo depois de uma reportagem fotográfica da Maxmen (o Jorge Fiel tinha um post acerca disso, mas desapareceu).

antonio ganhão disse...

Bem é um abordagem! Se pela badalhoquice não vamos lá prega-lhes com a parolice.

É de gaja!

Abobrinha disse...

António

A parolice é como a água do mar no nariz: na dose certa ajuda a aliviar a sinusite.

No caso de saudosismos bacocos de coisas que nunca existiram, ou pelo menos que não eram bem assim, eu atiro até fazer sangue. E depois bato até morrer mesmo!

Dito isto, eu não sofro de sinusite.

Anónimo disse...

Ah ganda botas!!!