sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O sentido da vida?

Aviso à navegação: se estão à procura de badalhoquice, bazem porque não tem. Se estão à procura de algo relacionado com o título, sei que não sou competente para dar uma achega muito inteligente, mas é o que se arranja.

Isto começou como uma resposta ao Manuel Rocha, mas tornou-se longo demais (leia-se: seca), pelo que resolvi tirar da caixa de comentários e dar-lhe a dignidade de um post.

Discutia-se o sentido da vida, que parecia ser mais definido nos nossos antepassados. Ou seria simplesmente um sentido de sobrevivência a sobrepor-se a quase tudo o resto? Neste ponto escreve o Manuel:

"Será que cada um se via como elo de uma cadeia que não começara nem acabava no espaço da sua própria existência ?"

... não faço ideia! Às vezes penso que esta geração pensa demais, outras que pensa de menos... e ainda não cheguei a conclusões (nem sei se haverá conclusões para tirar). Nesse aspecto seremos iguais às gerações anteriores. Com a diferença que temos tempo livre e conhecimentos que estes não tinham: o quebrarmos o ciclo natural do dia tem as suas vantagens. Não estou a ver como poderia a minha avó filosofar à 1 da matina, quando se tinha que ordenhar a vaca às 5 e depois ir para o campo e por aí adiante. Nesse aspecto, rezar tinha as suas vantagens: era mesmo o pé que estava mais à mão.

Possivelmente a verdade indiscutível e inimutável de todos os seres vivos (nós incluídos) é que cada um de nós é um elo de uma cadeia. Quem a quebrar, morre verdadeiramente, de uma morte final, definitiva. Porque é um ramo que não deixa fruto nem memória.

Mas como tudo no Homem, nada é assim tão simples. E não somos só biológicos mas muito sociais: a nossa marca não é só genética, mas muito da influência que temos nos outros. Homens e mulheres sem descendência marcaram mais gerações inteiras (bem ou mal) que pais e mães de proles (necessariamente) finitas. As ideias e certas acções são assim mais fortes que muita reprodução pura e simples.

De modo que continuo na minha: os antigos seriam realmente mais concretos por convicção ou por falta de alternativa, conhecimento e tempo? Porque a história de serem mais felizes e mais solidários me parece uma falsa questão. Possivelmente a ambas a resposta é: vai pastar mais a pergunta, porque não podes fazer experiências com isso e não há observações suficientes que permitam concluir seja o que for.

Mas os antigos estão na minha memória (mesmo os que não deixaram descendência, que na minha família são uma minoria) e de lá não saem. A minha preocupação é com os meus contemporâneos: procuraremos ainda sentido para a vida (atenção que não escrevi "o" sentido da vida, porque não existe um mas muitos alternativos)... ou teremos uma massa de zombies que cedeu ao capitalismo/consumismo e alienação de entretenimento imediato? E se a resposta é a última escolha... isso é bom, mau ou não interessa?

A minha preocupação maior ainda é comigo: o que é que eu quero? E... estarei a questionar demais? Até que ponto esse questionar me impede de viver?

Bem, às vezes impede de dormir! Apetecia-me às vezes ter dias de 50 horas para poder fazer e viver tudo o que quero. Essas alturas são boas, especialmente em contraponto com outras em que trocaria de bom grado por dias de 2 horas (assim a correr bem), a ver se o dia seguinte traria algo melhor (pensamento mágico, com a correspondente validade e lógica). A natureza humana última é a de que somos finitos e limitados, pelo que não só não mando na duração dos dias como na minha duração de vida (e sobretudo da minha juventude). A natureza humana é ainda muito destrutiva: com facilidade consigo anular-me (ou aos outros, e com muita eficiência, que chega ao pleno se destruir alguém fisicamente), mas potenciar todo o meu ser e querer é... impossível. Quando muito, pode entrar-se em compromisso. Com as 24 horas do dia e com o qu e conseguimos fazer de uma vida delas.

Possivelmente o sentido da vida (sim "o") é a tal outra sobrevivência à outra fome de que falei: a fome de saber, a fome de sentir-se parte do mundo. Pode ser o motivo porque pensamos Deus: o oposto de nós, ilimitado, sempre certo, infinito, omnipotente e omnipresente. Pode ser o motivo porque pensamos Ciência: compreender o mundo para se sentir parte dele. Como todas as fomes, comeremos até à saciedade ou a saciedade não existe? E qual é o ponto de saciedade? O que é que, em excesso, nos faz mal? Ou teremos um estómago anoréctico, que sabe que tem fome mas pensa dominá-la com a vontade? Às vezes até à morte.

Pode ser também que isto seja eu esteja a alucinar por ser tão tarde! Depois queixo-me que ando a tomar muito café!

Pior que isso, o badalhocómetro já há muito que não acusa fufas. Isso é grave. E não faz sentido na vida de ninguém (pelo menos de boa parte da minha audiência). Vou pensar nisso quando vier da minha viagem à Natureza. Ainda estive tentada a levar o computador, mas não vale a pena: às vezes é preciso saber parar. Ou parar só aparentemente, porque há vários aspectos da vida que merecem ser tocados para a frente. Não é só blogar!

5 comentários:

Manuel Rocha disse...

“Com a diferença que temos tempo livre e conhecimentos que estes não tinham”.

Temos outros “tempos livres” que usamos de outro modo. E claro que temos outros conhecimentos, mas tenho para mim que a questão não está tanto nos conhecimentos que se tem disponíveis como no uso que deles se faz . Há quem chame a isso sabedoria.

“..como poderia filosofar á uma da matina…”

António Aleixo era analfabeto e trabalhador rural e filosofava em rimas curtas pensamentos que muitos filósofos não exprimem em capítulos de prosa. A capacidade de perceber o mundo está mais na forma como o olhamos que no tempo de que dispomos para o fazer, mas isto digo eu.

“Porque a história de serem mais felizes ou solidários me parece uma falsa questão”

Concordo. Uma coisa não tem que ver com a outra. Mas, concordamos em que a felicidade também é uma questão de expectativas ? E que quando elas estão por natureza circunscritas é possível ( mera hipótese ) chegar-se lá com maior facilidade ?

“”..os antigos estão na minha memória…a minha preocupação é com os meus contemporâneos..”

Naturalmente. Mas é suposto que a memória seja apenas recordação ou deve ser também um repositório de saberes construídos ao longo da história ? Não será por muitas vezes sonharmos sem memória que enveredamos por percursos que desembocam em “lugar nenhum” ?

“ A minha preocupação maior ainda é comigo…”

Acho que esse foi mesmo um daqueles aspectos que mudou. Hoje consegue-se viver independente. E não havendo noção de interdependência não há como nos sentirmos elo de corrente nenhuma.

“…comeremos até á saciedade ou a saciedade não existe ?”

Sinto-me tentado a dizer que não. O pior mesmo é que nesse processo não olhamos a meios. E hoje dispomos de “armas” que são fruto da ciência e da técnica: potência e velocidade! Com elas conseguimos agir em escalas antes insuspeitas.

Gostei da tua reflexão !

Boas Férias !

Abobrinha disse...

Manuel

Continuamos a reflexão para o ano que vem, certo?

Krippmeister disse...

Compreendo a necessidade humana de dar um sentido á vida, mas a verdade é que também não incomoda nada pensar que a vida aconteceu por uma feliz harmonia de condições.

Para ser sincero até me parece que é pretensão a ideia que a vida tem um sentido.

alf disse...

Boa Abobrinha. Não tenho sido grande fã do que tens muitas vezes escrito (diferença de campos de interesses, apenas isso, não estou a fazer nenhum julgamento); mas gostei do que escreveste neste post e gostei do que respondeu o Manuel Rocha.

No que escreves perpassa um pouco a ideia de que o que perguntas não tem resposta. Todas as perguntas têm resposta e nós podemos ir encontrando as respostas. e é muito interessante irmos encontrando as respostas. Disse não sei quem que o que sabemos é o que descobrimos.

Estás no caminho, pois fazes as perguntas; só tens de começar a juntar as respostas que vais descobrindo. Mas isso não se consegue de um dia para o outro, eu continuo também à procura de respostas... bem vinda ao clube dos filósofos vivos!

E estou de acordo contigo numa coisa: não queria ter nascido no passado...

Um grande ano de 2008!

Abobrinha disse...

Mmmm... ora bem... não posso responder a isto com uma rapidinha, mas não posso deixar sem resposta... what to do, what to do? Acho que vou deixar para outra altura, para um novo post. Mesmo só quando estiver inspirada!

Fica a promessa, OK?